segunda-feira, 30 de abril de 2007

De pernas bem fechadas

Não reescrevi a história porque a Denyse Godoy fez direitinho.

Por que achei interessante? Porque, se fosse um filme, além de ter a cara do De Olhos Bem Fechados (do Stanley Kubrick, mas inspirado em Uma Novela Americana, livro com algo-assim no título), tocaria em diversos pontos humanos da comunidade, da sociedade e suas verdades hipocrenças. Um culto sagrado, um discurso que faz sentido em alguns pontos, mas que falha feio em outros, estabelecendo uma grande contradição, uma bela história. Há também influência da política, que retorna aos tempos de Reino-no-papo-do-papado
quando os bispos tinham poder. É, já estamos mesmo numa Inquisição bucheana.

Confiram.

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Lá estão as meninas nos seus vestidos de princesa, com direito a arranjo no cabelo e luvas três-quartos. Elas não conseguem disfarçar a ansiedade. Chega a hora da valsa com os pais, e em torno da pista de dança se colocam os outros membros da família, em traje de gala, emocionados.

Tudo muito parecido com um festa de debutantes de antigamente, não fosse um detalhe: no centro do salão, há uma grande cruz de madeira. Aos pés dela, uma a uma, em fila, as garotas lançam rosas brancas —e, nesse momento, prometem a Deus manterem-se virgens até o casamento.

Em troca, os pais, diante dos convidados, também assumem o compromisso de levar uma vida íntegra e honesta em todos os sentidos —especialmente no que diz respeito ao seu relacionamento com as mulheres.

A cerimônia, chamada "baile da pureza", virou moda entre os cristãos conservadores dos EUA. Foi criada em 1998 pelo ministério religioso Generations of Light (Gerações de Luz); estima-se que, em 2006, tenham sido realizados cerca de 1.500 rituais do tipo em 48 Estados do país.

Pressão sexual

"Percebemos que as garotas atualmente se sentem pressionadas demais em relação à atividade sexual, o que leva à depressão e também está na raiz de tentativas de suicídio", diz Randy Wilson, fundador do ministério. "No nosso entendimento, fortalecer o vínculo entre pai e filha ajuda a definir a identidade das meninas, para que elas saibam o seu valor e sejam respeitadas. Ademais, devemos fazer o que for necessário para apoiar a família, base da sociedade."

Wilson vive com a mulher, Linda, e sete filhos --três mulheres e quatro homens-- em Colorado Springs, Estado do Colorado. Para os interessados em organizar uma celebração como essa, a Generations of Light vende pela internet, por US$ 90, um kit com todas as informações necessárias.

Mas o "baile da pureza" representa apenas uma das faces do movimento pró-abstinência sexual nos EUA. Além de grupos religiosos, dos quais o True Love Waits (O Amor Verdadeiro Espera) e o Silver Ring Thing (Anel de Prata) são outros exemplos, também defendem essa causa organizações laicas como a Pure Love Alliance (Aliança do Amor Puro).

"Deixar para fazer sexo depois do casamento, em uma cultura que prega o contrário, significa a verdadeira liberdade. Eis aí a nossa mensagem", afirma Leslee Unruh, diretora da Abstinence Clearinghouse (Câmara pela Abstinência). Mesmo quem já perdeu a virgindade pode se arrepender e decidir só voltar a ter relações após o matrimônio, diz ela.

E como convencer os jovens de que esse é o melhor jeito para eles viverem a sua sexualidade? "Bem, dizendo que, dessa maneira, evita-se a decepção, traumas emocionais difíceis de serem superados posteriormente e ainda a gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis", conta Leslee.

Faz parte da estratégia frisar que a camisinha tem um índice de falha e mostrar, em palestras e panfletos, fotos de lesões cutâneas causadas por DSTs.

Escritório na Casa Branca

Assim, do terreno da fé passa-se ao do planejamento familiar e ao da saúde pública.
O governo de George W. Bush tem sido bastante criticado por privilegiar, na destinação de recursos públicos, as iniciativas que partem de grupos religiosos. Um processo em tramitação na Suprema Corte denuncia que, ao privilegiar grupos religiosos na distribuição de verbas, o governo está acabando com a separação entre Igreja e Estado.

"Se você é viciado em álcool e um programa religioso pode ajudá-lo a parar, devemos dizer aleluia e agradecer em nível federal", disse Bush um ano atrás, ao defender mais fundos para as entidades do gênero --o que agrada em cheio a nova direita americana, sua principal base eleitoral.

A Casa Branca de Bush mantém um Escritório de Iniciativas Baseadas na Fé e Comunitárias para tratar dos projetos, para os quais foram reservados US$ 323 milhões em 2007, montante 37% superior ao do ano passado. Há escritórios semelhantes em departamentos (ministérios) como o da Educação e o da Saúde.

A campanha pela abstinência sexual está entre as prioridades de Bush e, por isso, tem orçamento próprio: US$ 191 milhões neste ano, contra US$ 163 milhões em 2006.

"Como Deus deseja"

Em janeiro deste ano, o contador Oscar Kornblat, que mora em Colorado Springs, participou do "baile da pureza" com sua filha mais velha, Hannah, 15 anos. Ele queria enfatizar o ideal de manter coração e mente limpos, "como Deus deseja".

"E tem um outro motivo. Minhas duas filhas são adotadas. Suas mães as tiveram solteiras, com 17 anos, e elas por sua vez também eram filhas de mães solteiras. Isso vai parar nesta geração", enuncia, firme.

DENYSE GODOY, da Folha de S.Paulo, em Nova York
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sexta-feira, 27 de abril de 2007

A carniça mediática

O bafafá já passou, mas vale a pena lembrar. A qualquer momento um feirante anuncia.

No episódio dos quinze marinheiros britânicos detidos pelo Irã, cogitou-se fortemente a idéia de que as histórias de cada personagem fossem holofoteadas com algumas páginas biográfica-ficcionais. Eles venderiam suas histórias aos curiosos de plantão.


Digo, quer dizer, como se diz...

Tudo se vende, amigo, tudo se vende!... Todos os grandes portais da internet têm alguma porcaria de link falando de celebridade. Caras e Contigo! vendem pra caralho. Porra, que merda é o ser humano.

Talvez a história fosse bem explorada e poderia render um bom passatempo. Existem biografias muito bem escritas. Mas o alarde e a urgência que se trata do tema deixa claro que o interesse está mais para converter o ápice mediático em lucro, que contar a história em si.

É que os quinze são "heróis", num teatrinho com o qual o
Mahmoud Ahmadinejad quis provar sua seriedade. Mas, teremos uma história do Iraque? É logo ao lado.

Não. Os grandes já aprenderam uma vez com o erro do Vietnã. A lição: comunicação.

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quinta-feira, 26 de abril de 2007

Merecia o Oscar - II

Sinopse: Mark Villanueva, 17, é órfão trágico de pai e mãe. Mas o garoto é forte e segue sonhando. Até que sua vida se transforma ao se apaixonar por uma garota de 14 anos. Os pais dela, comovidos com a história, convidam o genro a morar consigo. Um ano depois, os hormônios de Mark levam-no a violentar sua namorada, e tudo acaba num julgamento, onde a família tem uma grande surpresa.

Por que essa história é digna da série Merecia o Oscar? Em primeiro-terceiro, porque é real. Em segundo, porque a encenação durou dois anos. Em terceiro-primeiro, porque o personagem Mark é interpretado pela "atriz" Lorelei Corpuz, de 30 anos. Não deve ser fácil incorporar alguém do sexo oposto, com 13 anos a menos, considerando a faixa etária de cada. Também não deve ter sido muito fácil para a vítima, 14, ter suportado 2 anos de namoro em carícias unilaterais. "A vítima afirmou que Corpuz a molestou, agrediu e mordeu, mas disse que a mulher nunca mostrou suas partes íntimas durante os atos."

(Já na semana passada postei sobre a indiana que fingiu uma gravidez por nove meses para poder roubar um bebê da maternidade. Agora, essa história de amor às cegas.)

A farsa acabou quando um policial parou o carro de "Mark" para investigar se era roubado. O tira reconheceu o rosto, pois ele própria já havia detido Corpuz, já julgada outrora por molestar uma criança.

A ninfeta estava no carro. Imagine a cara. Curiosamente a data da descoberta fora 1º de abril.

Como diria Shakespeare, a vida é um palco. E você, será indicado(a) por qual papel?
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Sobre mendigos e lobos

Eric Montañez, de 21, servia comida a cerca de 30 mendigos reunidos num parque de Orlando, Flórida. Ele pertence ao grupo Alimentos, não bombas, que se dedica a oferecer comida às pessoas carentes.

Foi preso por isso.

O que ele fez é considerado crime. A criação da lei atendeu às reclamações de administradores municipais e de vizinhos dos parques, que reclamavam da sujeira deixada pela distribuição de comida.

Multar quem oferece comida é a forma mais inteligente de corrigir o problema? Nada que uma boca-a-boca do caridoso com os mendigos não resolvesse. "Pega a embalagem, joga no lixo. Ei, afinal, está e sua casa..."

Pausa. Já estou passando por cima do problema "existir mendigos", já sedado com a insensibilidade e descaso urbanos. É capaz de daqui a pouco eu dizer "que bom que há lixo no chão, pois assim gera-se emprego"...

Na rua de minha casa tem feira toda quinta. A prefeitura não limpa direito, fica tudo com restos de frutas por uns dois dias no asfalto (e isso porque tem árvores logo na praça ao lado, que bem poderiam gostar de um adubozinho), até que o sol seque ou que a chuva os leve para a próxima enchente da esquina.

Montañez foi libertado após pagar uma fiança de US$ 250. Se for condenado, ele pode ter de pagar US$ 500 de multa e ficar até 60 dias na prisão.

São fatos que não cabem, não cabem.
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quarta-feira, 25 de abril de 2007

Monoxidade

Biu reinfla quando pisa na calçada, dum ônibus saído. Do abafo diochído humano sente alívio, entretanto o pulmão se nega a estufar: a estufa.

A perua atravessou o farol desmembrando parafusos e baforando preto. Biu, roxo, segura a vontade. E tosse.

Espera pela baldeação, e um balde queda d'água fria paraísa o horizonte cinza bégeo. Motos sem matos, carros e escarros, buzinas de business, a luz se difusa num turvo degradê. Pedestres em esfumato.

Mas também é a lente. Incomodada, irrita sua fôrma, fôrmas que saltam o ombro do baixinho da frente que lê notícias da imprensa em pressa. Biu acompanha.

"Respirar o ar poluído de grandes cidades, pode ser mais perigoso, para a saúde do que ser ex, posto a altos níveis de radiação, de acordo-"

"-quem opíta por viver, na zona de ex... clusão, ao redor de Che-cherno... — chernóbil — pode sofrer menos, probrema de saúde que numa cidade, grande-"

O via do baixote vem, leva. Biu confere se um dos engarrafados logo atrás é o seu. Mas, nenhum. Vai se informar sobre a guerra no ombro de outro.

"Buscando armas nucleares, ... Búch! errou na invasão..."

Um caminhão sobe a calçada para entrega rápida no mercadinho. Mesmo, tanto que a carroça fica ligada. O monochído intumesce e alcança os broncos pulmonares de Biu, que não entende dos broncos, nem carbonos que não sejam de papel, mas entende o que é na veia, e se afasta, lentamente inútil, porque o gás o alcança, abraça como sucuri, só que esmagando por dentro sem ossos. Uma dona brava diz:

Mai esse caminhoneiro não vê que tá sufocando quem tá no ponto?
— É, fica difícil respirá.
Mai, cê sabe? é por causa disso tudo que o mundo tá se quentando!
— É o esquentamento grobal, tá nas notícia.

Se foi monochído nas cachola ou falta nas escola, Biu se embananou no raciocínio, acreditou nos discursos dos presidentes, temeu ser atacado, e por um instante alcançou a camada de ozônio.

— Sabe, atacaro o Iraque porque arma nucrear é danosa. Imagina, logo logo ele ataca nóis também, que deu no jornal que poluição é mais periguenta ainda.
— Bem que tinha mesmo! Ói! Ói o pretume que sai da cara quando passa o lenço. Tamo tudo é sujo com essa fumacêra!
— Se fosse petróleo, aí que atacavam mesmo! — se meteu um outro senhor. Mas a conversa acabou, que a vã da véia chegou, e com o metido Biu não foi.

O ponto de ônibus anunciava um feto morto, com advertência dos riscos da nicotina. O busão de Biu chegava enquanto a avenida piscava que nem árvore de Natal.
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sexta-feira, 20 de abril de 2007

Extremidades de um seqüestro

__Em um ônibus, três homens armados com granadas e um fuzil mantiveram como reféns 32 crianças e dois professores. As crianças seqüestradas têm entre cinco e nove anos.

__Ducat, o dono da creche onde as crianças estudam, e organizador da até então excursão, declarou: "Amo estas crianças. Estou dizendo à polícia: tenham pena delas." — O ônibus havia saído de Tondo, um bairro pobre da periferia, para visitar um centro turístico.

__A polícia trabalhava com a hipótese de que os seqüestradores eram ladrões sendo perseguidos, e que tomaram o ônibus durante a fuga. Enganaram-se. O pagamento exigido pela para liberação dos reféns é que as crianças tenham educação e moradia gratuitas.

__Ducat é o líder do seqüestro.

__Só Maquiavel para justificar os meios pelos fins. Será Ducat o seqüestrador mais humantário? Em vez de dinheiro, pediu educação e moradia para as miseráveis crianças. O senador do Bem-Estar Social, já dentro do ônibus cercado de policiais, ofereceu garantias de que elas receberiam uma boa educação. E, espero eu, um bom psicólogo para tratar o trauma.

__Que Ducat sirva de referência. Já que o governo brasileiro se acomoda em investir em educação, bem-estar etc., será que por mal o Brasil evoluiria?



(Para ficcionar a notícia, misturei a ordem dos fatos que li aqui.)
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Ciença ou Crência

__Nas diversas edições da revista Viver, Mente & Cérebro — uma publicação da editora Duetto sobre psicologia, comportamento, linguagem, neurologia etc. — li sobre o poder da crença para a cura dos pacientes. Crer em qualquer coisa: deus, deuses, força superior, xamã, santos, fezinhas, horóscopo, posição dos astros, ervas, política... Não raramente publicavam artigos sobre a zona cerebral destinada à religião. Acreditar "com o coração" em qualquer coisa proporciona bem estar, que nada mais é do que o cérebro respondendo positivamente ao seu pensamento e enviando informação de que está tudo bem para o resto do corpo. Deve ser algo contagiante: as substâncias do bem-estar promovem o bom funcionamento dos órgãos, promovendo-se a uma espécie de auto-elixir, que dá mais chances de um paciente se recuperar. Taí um possível motivo para que a fé cega, fé de que há uma entidade suprema capaz de ouvir você pedir a cura, poder curar! Foi a entidade em si? Vai saber. O fato é que só há cura ou pela ciência, ou pela crença (e vá explicar ao crente que a ciência explica sua religião...)

__Lá no México, parece que reconheceram o tal poder de cura da religião. Inauguraram um hospital que, além de contar com modernos laboratórios e salas de cirurgia, possui áreas para curandeiros (!) e um temazcal, que é o banho de vapor usado na medicina tradicional indígena. Ou seja, se o médico falhar, chama o pajem. Ou o contrário.

__Eu apoiaria. Colocar entre quatro paredes a ciência e a religião (que diz-se explicada pela ciência) parece bem mais sensato que a guerra católicas contra a descoberta do homem, a defesa do criacionismo ou o isolamento do conhecimento científico. Atenção: espero que eu não esteja pisando ainda em solo de clonagem, células-tronco, transgênicos, aborto, encomenda de bebês perfeitos etc. Deus me livre!

__Não acredito no Papai Noel, mas prefiro que haja fezinha entre os povos. Não pelo ópio que lhes causam, mas talvez por representar a última ferramenta disponível para a cura de um miserável não atendido pelo governon "laico": a ciença.

(Link da notícia aqui)
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domingo, 15 de abril de 2007

Mentes retornáveis, pessoas descartáveis


__O alemão HA Schult está rodando o mundo com uma multidão de "Trash People" (pessoas de lixo, em inglês), esculturas de lixo em forma de pessoas. A exposição é um protesto contra a sociedade de consumo.

__O site do artista está aqui. Clique em "Trash people" para ver fotos impressionantes do exército de humanos-lixo (ou seria lixo humano?) em diversos locais do mundo, como na muralha da China e no pátio fotogênico de Moscou; as fotos são lindas, mas algumas são montagens de locais onde Schult pretende expor sua arte.

__Você é o que você consome? Você é o seu lixo? Já ouvi tais questionamentos em diversos lugares. As revoluções são descartáveis? Os clichês retornáveis? O lixo é o traço de nossa existência? Nesse caso, é bom começar a reciclar mais.

__O título do post é um devaneio a parte.

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Yerma da Índia, ou, Merecia o Oscar - I

__Da série E o Oscar vai para...

__Depois de "Yerma" e "Experimento Yerma", temos a versão, da Índia: "Enfyermeira".

__De acordo com o jornal (de nome curioso para o português) "Hindustan Times", temos uma atriz digna de receber o Oscar pela sua performance de longa duração. Uma enfermeira indiana, 38 anos, desesperada com seu Juan, que em 14 anos de casamento não lhe deu um só filho, fingiu estar grávida por nove meses, e mais ou menos na época verossímil do rompimento de sua bolsa, seqüestrou um bebê recém-nascido do hospital onde trabalhava.

__Imagine o trabalho físico, o preparo da expressão corporal desta potencial premiável em Oscar. (Ou talvez premiável pela cara-de-pau.) Foram nove meses de progressão!

__E por falar em progressão, se fosse num palco haveria até o momento de catarse: "Ela deixou a criança no chão, no meio de restos de sangue, e se deitou numa cama. Quando os médicos chegaram, disse a eles que foi um parto repentino", disse o oficial da Polícia Devesh Srivastava.

__A farsa foi descoberta dois dias depois, quando os verdadeiros pais se desesperaram pela ausência no berçário. Mas se a enfermeira fosse um pouco mais realista, ou tivesse um diretor ou cenógrafo ao seu lado, poderia ter se safado com o filho. Seu teatro foi entregue porque os funcionários desconfiaram que o local do parto estava sujo, mas o bebê estava limpo...

__Texto completo aqui.
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A moral é coisa de sua cabeça

__Estes pesquisadores podem até estarem enganados, equivocados etc. em seus números de comprovante científico. Mas tal notícia não deixa de ser interessante; no mínimo, forçaria diversas filosofias e doutrinas a reverem seus conceitos em relação à moral, caso a ciência provasse esta nova verdade, pois sempre mutáveis e temporais que são as verdades.
__Exemplos:
  1. A moral consiste em fazer prevalecer os instintos simpáticos sobre os impulsos egoístas. (A. Comte)
  2. Se os teus princípios morais te deixam triste, podes estar certo de que estão errados. (R. Stevenson)
  3. Eu sinto a nostalgia da imoralidade (Machado de Assis)
  4. A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade./O medo é o pai da moralidade./Não há fenômenos morais, mas apenas uma interpretação moral de fenômenos; (F. Nietzsche)
  5. Primeiro vem o estômago, depois a moral. (B. Brecht, em "A Ópera dos Três Vinténs" — e posso dizer que Seu Madruga disse "quando a fome aperta, a vergonha afrouxa"...)

__Falo do estudo levantado por um grupo liderado pelo psicólogo Marc Hauser, da Universidade Harvard, e pelo neurologista António Damásio, da Universidade do Sul da Califórnia. Submeteram diversos voluntários a um questionário com situações-dilema, como "você sacrificaria um filho para o bem de todo o resto ao seu redor?" — Entre as pessoas estavam, propositalmente, alguns indivíduos que sofreram lesão numa área do cérebro que relaciona a consciência com as emoções.
__Os responsáveis pela pesquisa já acreditavam que a moral fosse cerebral. Os resultados apenas comprovam a sua tese: os "lesionados" são mais frios e decidem pela razão, enquanto os "normais" entram em crise e muitas vezes escolhem pela emoção.
__Comovente, não é?
__Chamou a atenção porque, como disse no início, leva a reconsiderarmos diversos pensadores que dedicaram boa parte de suas vidas ao tema da moral, moralidade, moralismo e os filhos bastardos do termo. Resta saber se as perguntas da pesquisa eram apenas voltadas em dilemas da espécie (que seriam natural em animais, como o instinto materno e de sobrevivência) ou se abordavam os tabus. Aí a cobra vai fumar! Digo, digo, aí então as coisas ficarão interessantes...
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__O link da notícia é este.
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quinta-feira, 12 de abril de 2007

Heavy Metal, a música dos inteligentes

Interessante! (Completo, só aqui)

Pesquisa mostra que heavy metal serve de catarse para superdotados

O heavy metal é o som preferido pelas crianças superdotadas do Reino Unido, que encontram neste som visceral uma forma de catarse, segundo uma enquete feita entre estudantes da Academia Nacional para Jovens de Talento.

Grupos de rock pesado como Slayer e Slipknot estão entre os favoritos entre os maiores intelectos do país, que parecem gostar também das letras com mensagens políticas e de forte carga emocional.

Os responsáveis pela pesquisa reconheceram sua surpresa ao ver que os estilos menos populares entre os superdotados eram os que tradicionalmente são associados às mentes mais privilegiadas, como jazz e música clássica.

O responsável pela pesquisa, Stuart Cadwallader [...] mostra que estes jovens encontram no "heavy metal" uma espécie de "catarse", de forma particular os que, apesar da inteligência superior, têm baixa auto-estima. Esse tipo de música agressiva serve também para que canalizem suas frustrações e insatisfação.


E eu que achava que bater cabeça prejudicava o cérebro...

Mande-o à cana.

Etanol, o personagem do discurso verde-mofo. O Brasil está preparado para os acordos com os EUA? Eu não vou dizer. Mas imagina o problema apontado neste artigo multiplicado pelas ambições míopes desse presidente de Oscar?

PS: eu tenho medo, mesmo, de confiar em fontes puramente mediáticas. Só que eu não vejo, nem o molusco no comando, nem os bóias-frias comendo. E também não vi o lido! Que então sirva para pensar, não para estagnar.

Como á exclusivo para assinantes UOL ou Folha, aqui vai:

Blitz vê condição degradante na produção de álcool em SP
Trabalhadores atuavam sem equipamento de proteção, banheiro e água potável

Desde 2004, 17 bóias-frias já morreram no interior do Estado; suspeita é que mortes ocorreram por excesso de esforço


MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARÍLIA

No momento em que a produção de álcool combustível no Brasil é vista como modelo de alternativa energética global, fiscais do Ministério Público do Trabalho encontraram ontem em uma fazenda em Ibirarema (390 km a oeste de São Paulo) ao menos 90 trabalhadores rurais atuando no plantio da cana em condições consideradas "degradantes".

O procurador Luís Henrique Rafael, do Ministério Público do Trabalho, disse que essa condição precária é comum no interior de São Paulo. Outras ações de fiscalização ocorrem na região de Marília (SP), área de expansão do plantio da cana.

O Ministério do Trabalho promete intensificar neste ano a fiscalização da colheita da cana em São Paulo (cerca de 60% da produção nacional).

Desde 2004, 17 bóias-frias morreram no interior do Estado. A suspeita é que as mortes ocorreram por excesso de esforço no corte da cana. Os trabalhadores geralmente vêm do Nordeste para a safra, de março a novembro.

A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), principal representante de usineiros do centro-sul do país, diz que orienta os associados a evitar terceirização da mão-de-obra, mas que a responsabilidade do plantio cabe a cada fornecedor da usina. Diz ainda que orienta as empresas a registrarem o trabalhador e a garantirem todas as normas de segurança.

Na ação de ontem, os fiscais autuaram a Usina Renascença Ltda., responsável pelo plantio, por 13 infrações. Os trabalhadores atuavam sem equipamentos de proteção, sem banheiro, sem água potável e sem equipamento de primeiros socorros, entre outros problemas.

Alguns dos trabalhadores contaram à Folha que eram obrigados a pagar, num mercadinho local, R$ 38 pela botina e mais R$ 13 pelo facão. O material deveria ser fornecido pelo empregador, segundo o Ministério Público do Trabalho.
"Tive de trabalhar três dias no corte de cana para poder pagar a botina que comprei", disse Benedito Aparecido Gonçalves, 37. Já Ezequiel Antônio de Araújo, 38, contou que há cerca de 20 dias teve de passar o dia trabalhando sob o sol após ter cortado a mão com o facão.

"Disseram que não iriam gastar combustível para me levar ao hospital. Tive de esperar o final do dia para poder conter o sangramento", afirmou ele, que disse ganhar em média R$ 14 por dia de trabalho na fazenda Porta do Céu. Os fiscais também constaram que os trabalhares são levados ao campo em dois ônibus sem condições de transporte.

O plantio da cana e dois ônibus que conduziam os trabalhadores foram interditados. Os ônibus não tinham tacógrafos (medidor de velocidade) nem autorização do DER (Departamento de Estradas e de Rodagens) para transporte de passageiros. Um deles não tinha freio nem retrovisor.
Os trabalhadores não tinham água potável nem contavam com abrigo para refeição. Ou almoçavam sob o sol ou se escondiam embaixo do ônibus.

"Os trabalhadores estão submetidos a graves riscos de acidente", disse o procurador Luís Henrique Rafael.

A Usina Renascença foi arrendada em janeiro passado pelos coreanos Yung Soon Bae e Hei Suk Yang, que também são donos do Grupo Star BKS.

Hei Suk Yang disse ontem à Folha que tinha tomado conhecimento das autuações, mas que desconhecia a situação dos trabalhadores rurais.

Caça às bruxas no fundamental britânico

Será que foi por contato visual, ou a intolerância está enervando?
"As escolas britânicas poderão proibir que as alunas usem véus que cubram o rosto por motivos de segurança e de aprendizagem, segundo novos guias sobre uniformes escolares que serão lançados pelo governo do Reino Unido. [...] As novas diretrizes do Ministério da Educação não ordenam nem recomendam que as escolas proíbam o véu, mas afirmam que estas poderão fazê-lo caso considerem conveniente ou após consultar o guia, afirmou hoje um porta-voz da pasta."
Pra mim, parece discurso de cristão ortodoxo querendo se fazer de bonzinho.

O último passo é mandar à fogueira.

Mascarada dos camaradas

"— Camaradas! — gritou uma voz juvenil. — Temos gloriosas notícias! Ganhamos a batalha da produção! Os totais completos da produção de todos os artigos de consumo demonstram que o padrão de vida aumentou nada menos que vinte por cento sobre o ano passado. Em toda a Oceania houve esta manhã incontroláveis demonstrações espontâneas, com os trabalhadores marchando das fábricas e escritórios, e desfilando pelas ruas, com estandartes exprimindo sua gratidão ao Grande Irmão, pela nova vida feliz que a sua sábia liderança nos deu. Eis alguns dos totais finais. Gêneros alimentícios...

A expressão "nova vida feliz" correu várias vezes. Ultimamente, tinha caído no gosto do Ministério da Fartura. Parsons, a atenção presa pelo toque marcial, escutava com ar solene e boca aberta, mistura de aborrecimento e enlevo. Não podia acompanhar as cifras, mas tinha certeza de que deviam causar satisfação. Tirara do bolso um cachimbão imundo, já meio cheio de fumo chamuscado. Com cem gramas de tabaco por semana, raramente era posível encher o cachimbo até em cima. Winston fumava um cigarro Vitória, que mantinha cuidadosamente na horizontal. A nova ração só começava no dia seguinte e lhe restavam apenas quatro cigarros. Conseguia fechar os ouvidos aos barulhos mais distantes e estava escutando a parlapatice da teletela. Aparentemente, houvera até demonstração de agradecimento ao Grande Irmão por aumentar para vinte gramas a ração semanal de chocolate. No entanto, apenas na véspera, fora anunciada a redução para vinte gramas. Seria possível que engolissem aquilo, vinte e quatro horas depois? Pois engoliam. Parsons engoliu facilmente, com estupidez de animal. A criatura sem olhos, da outra mesa, engoliu fanaticamente, apaixonadamente, com um desejo furioso de descobrir, denunciar e vaporizar quem quer que ousasse sugerir que na semana passada anterior foram trinta gramas."¹

"Desde o início da operação militar no Iraque, o governo dos Estados Unidos calcula ter gasto mais de US$ 290 bilhões. Para algumas organizações independentes, este custo pode ser ainda maior: a ONG National Priorities Project, um grupo independente que visa medir os gastos governamentais em diversas áreas, diz que a Guerra do Iraque já consumiu mais de US$ 409 bilhões ao cofres públicos americanos."²

Matá de fome, té que mofe. Eu que tome, enche o cofre.
Tira aqui, sobe lá, as anias tomam chá. Paz é gué, guerra é pá.
Os camarada Dão o cú, cobram nada.
Óia a cifra. Ói África. Os camarada dão? O cú! Cobram, dana...

— Barriga saco sem fundo. Pu falá em saco, neguim torto, Papá Noé é mericano...


¹ 1984, de George Orwell.
² Folha Online, 20 de março de 2007.

Ocidente Médio

O artigo que selecionei mostra mais uma vez que a linguagem contém o ingrediente do valor. Os autores mostram o porquê de adotarmos como zero o de Greenwich, de chamarmos "Oriente Médio" com a conotação de "outro", entre mais termos referenciais. Os "mean time" e "mean title" não podem ter sido dados por ninguém senão um ociental dominador.

No meio das relações, um ponto interessante: muito se critica em relação à liberdade da mulher do "oriente médio", mas poucos põem o fato lado a lado da condição da livre mulher ocidental. Quando se é mostrado o tratamento dispensado à mulher oriental como o símbolo da opressão e do atraso da cultura mulçumana, esquecem de que os países ocidentais são os campeões mundiais de violência contra a mulher.

OK, ok, este é apenas um ponto de vista...

Como os próprios autores dizem: Falam dos mortos do onze de setembro, mas se esquecem de quem soltou a bomba atômica. Só porque tem dinheiro, vai defender?

domingo, 1 de abril de 2007

Morreu e foi pro céu? Não: foi pro céu e morreu.

Dispensa comentários. É uma notícia bem engraçada!
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u61622.shtml

Corredores para elefantes

A Índia criou um corredor para elefantes passarem e não interferirem tanto no trânsito. É inusitado: imagina uma Rebouças com vários trombudos passando ao seu lado, enquanto o farol não abre?

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u105567.shtml

Aquecimento Global: termômetro político?

Aqui vai um ponto antagônico para o debate "caloroso" do aquecimento global. É interessante, porque levanta a bola de que tanto alarme pode ser um gancho mais político que ambiental. Vale a pena ler e pensar a respeito.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u16137.shtml

Cotas para mulheres.

Concordo que deva existir a mesma chance para mulheres quanto aos homens. A Espanha, que está toda moderna neste sentido, criou cota de 40% para vagas femininas em certos tipos de empresas. Alguém aí concorda que isso é tentar podar as folhas de uma árvore podremente enraizada?

Se a empresa precisar das 100 pessoas mais capazes, e num teste dos 100 sejam 70 homen, 10 vão ter que bailar para dar vaga a 10 mulheres que são menos capazes. A seleção então é por gênero, não por competência? Ué, se 100 dos escolhidos forem mulheres, qual o problema? E se for 100 homens? Igual com o sistema de cotas para negros nas universidades públicas. "Já que é difícil educar a população, vamos obrigá-las a mudar na ponta do processo."

Vamos comemorar com um brinde assim: "Hip, hip, ócrita! Hip, hip, ócrita!"

Talvez seja necesário, por enquanto. Depois de algumas poucas décadas a partir do novo milênio a cultura da sociedade já estará preparada para a igualdade entre gêneros (quiçá classes!) e então leis de tapete como essas perderão sua força.

Do blá-blá-blá ao blair-blair-blair

"Caros telespectadores. Eu sou o poderosão da Inglaterra e venho aqui pedir desculpas pela escravidão africana."

Leia a vã demagogia aqui.

Além do cara não ter nada a ver com isso, ele pede desculpas por um fato cujas seqüelas colonialistas e exploradores permanecem até hoje, seja por miséria, seja por preconceito, sem que nada seja feito de quantitativo. No entanto, continuamos aí, gastando em guerra, por dia, a quantia que daria para matar a fome de todos os neguinhos barrigudos num mês. E gastando mais em cosméticos que em educação.

O próximo Jesus deveria pedir desculpas ao mundo. "Por que meu Pai nos criou* tão humanos, demasiadamente humanos."


* Supondo o criacionismo como verdade.