terça-feira, 31 de julho de 2007

Brasil: crer, dor.

“Em determinados cargos, a gente não diz aquilo que pensa nunca, a gente faz quando pode e, se não pode, a gente deixa como está para ver como é que fica. [...] Eu pego a minha experiência de 20 anos no movimento sindical e fico olhando a quantidade de coisas que falei porque era moda falar, mas que não tinha substância quando você pega no concreto.” (Lula)

“Esqueçam tudo o que eu disse.” (FHC)
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— Mãe, o Papai Noel fala mais bonitinho...


E agora, Luís?
A festa acabou,
o ar apagou,
o povo caiu,
o vôo não freou,
e agora, Luís?
e agora, nós?
você que é só nome,
zombava dos outros,
fazia seus gestos,
discursos, protestos?
e agora, Luís?

Está sem colher,
está sem discurso,
campanha carinha,
já não posso escolher,
já não posso voar,
despir já não pode,
a noite esquentou,
o deputado não veio,
o juiz não veio,
o gozo não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, Luís?

E agora, Luís?
Sua dofe palavra,
seu instante de febre,
sua gula e banquete,
sua biblioteca,
seu banco de couro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
fecharam;
quer morrer no mar,
de dinheiro;
quer ir para minas,
Abre um bordel.
Luís, e agora?

Se gritasse,
se gemesse,
se tocasse
a gente não assistisse!
Mas deita,
mas dorme,
Se pelo menos se morresse...
Mas a gente não morre,
você é mole, Luís!

Sozinhos no escuro
qual bicho-do-mato,
com demagogia,
tal democracia
para nos encostar.
De carro preto
que fuja de golpe,
você nos guia, Luís!
Luís, para onde?
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Disputas, dez putas, déspotas.

— Seu delegado, denúncia de puta.
— De puta?
— De puta.
— Puta é quem?
— Denúncia de jornalista. Sobre puta.
— Homem ou mulher?
— Mulher.
— Que puta!
— De puta a puta.
— Prenda.
— O cafetão?
— Não. A puta.
— A puta?!
— A puta da jornalista.
— Por que a jornalista?
— Porque não pode.
— Puta?
— Dedar putaria.
— Puta...
— Pode ser bandido. Puta, não!
— Por quê?
— Puta não apita em puta.
— E quem apita?
— O juiz.
— Que é filho dela?
— Não. O juiz, que come a puta.
— Da jornalista?
— A puta-puta!
— Ela fica puta.
— E aí me imputa.
— E disputa.
— E não se vende por um puto!
— Manda à puta que pariu?
— Não, que ela denuncia.
— Então, longe de puta?
— É. E limpa a denúncia.
— Dela?
— Da gente.
— Não era da puta?
— Sim, mas também me desimputa!
— Entendi.
— Nunca vi puta. Nunca vi puta.
— Amanhã tu é home desimputado.
— Faz direito, que tu vira deputado.
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História baseada aqui.
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segunda-feira, 30 de julho de 2007

Cristocracia 1, Demo 0.

Senhor, perdoai-vos, pois não sabem o que fazem.

Já com certa defasagem, porque brasileiro tem memória curta, vou mexer na merda pra ver se fede.

Aquela eleição das novas sete maravilhas feitas pelo homem não poderia ser mais fajuta. Primeiro, por serem as obras eleitas por qualquer um que tenha internet ou telefone. Se não tiver, problema do seu candidato.

Segundo, porque o voto é validado por IP (endereço de conexão de internet), não CPF. Ou seja, você pode votar dez vezes, desde que tenha sido de dez locais diferentes.

O Camboja, terra dos templos de Angkor, não teve entrada na cabine de votação. São pouquíssimos os cambojanos ligados ou conectados. E mesmo que toda a população tivesse acesso a tais tecnologias, não teria sido suficiente (fonte 1 na Folha e 2 no Observatório da Imprensa).

Terceiro, porque desde quando um nacionalista sabe votar? — ainda mais quando só há propaganda de um candidato. O candidato do país. No Brasil, até o Lula falou para que os brasileiros exercecem sua cidadania e votassem no Vevus de Navaré do Rio de Vaneiro.

Qualquer um que diga que Cristo Redentor, uma estátua colocada estrategicamente num ponto de observação, tem mais valor humano que as três pirâmides do Egito, construídas sob uma acurada geometria e astronomia, ou de uma Acrópole grega, toda erguida segundo a lei áurea, deveria ser internado num hospício sob fachada de democracia. Do contrário, assumamos que aqui se elege no grito, e façamos uma Gaviões da Fiel de Cristo Redentor: o maior time do mundo, porque tem a maior torcida!

A-hã.

Foram campanhas ufanistas, bairristas, e, sim, quase de torcida de futebol. São farsas como essa que me fazem creditar cada vez menos a democracia.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura não legitima essa eleição, segundo a nota no site deles. Mas quem diabos é Unesco, não é mesmo?
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quarta-feira, 18 de julho de 2007

Acidente aéreo e o caso passageiro.

Descaso com a situação aérea. O assunto, como diz o trocadilho, está no ar. Em menos de um ano, os dois piores acidentes da aviação brasileira. Uma TAM que, em resposta aos familiares, responde que não sabia quem estava no vôo. Um governo que envia a polícia militar. À empresa? Não. Foi para conter os ânimos dos familiares ignorados. No Brasil, a PM protege os criminosos dos civis. E o presidente mete o dedo no assunto, mas infelizmente é o dedo cuja competência lhe falta.

Gostaria de ter os nervos mais explosivos para indignar-me com a situação, mas infelizmente a história me parece mais uma Sexta-Feira 13, cujo enredo todo mundo sabe: pânico, ilusão de fim... e um recomeço pior ainda.
E resta a mim o lamento. Até o dia que aconteça com alguém que eu me importo.

Por isso, deixo aqui as palavras de meu amigo Gregor.


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Claucio *, escreve no seu blog como os fdp agora, diante da "maior tragedia aérea brasileira da história" ainda conseguem ter o descaramento e a total e completa ausência de hombriedade de virem com aquela porra de discursinho de merda de que "qualquer acusação agora seria precipitada, qualquer hipótese seria de uma tamanha irresponsabilidade, que nada poderá ser dito antes que as 'investigações sérias' procedam, sejam concluídas, que os técnicos, especialistas da aeronáutica, consultores de merda validem toda a


perícia e análise do que realmente aconteceu. Antes disse, é tudo especulação, fraude, boicote, difamação, o caralho a quatro".

Sério, puta que o pariu, é evidência atrás de evidência e aquele puto continua na presidência do Senado porque "está sendo investigado, SERIAMENTE, e todo mundo é inocente até que se prove o contrário e, quando se prova, então me prove a validade da sua prova. Prova! Aliás, quem é essa prostituta de luxo aspirante a jornalista que insinuou a possibilidade de pousar nua para revista masculina, chantagista, pistoleira e vigarista para acusar alguém de algo? Prostituta não é ser humano, é justificativa inquestionável para espancamento público em via pública, segundo a própria autoridade no assunto da jovem classe média alta carioca.

Enquanto isso, pelos quase que mesmos motivos que são injustamente acusados os nossos políticos (calúnia!), os seus colegas chineses, por sua vez, são executados, e os japas, ainda mais loucos, eles mesmos que se matem. Harakiri!

É claro que todo mundo já fez essa analogia da política nacional com a oriental, mas agora morrem 200 e poucos negos e vem neguinho em rede nacional me dizer que não dá p/ acusar ninguém nem porra nenhuma antes do caralho de investigação de merda?? Que ninguém pode abrir o bico até que TODOS os fatos sejam analisados seriamente, aprofundados, detalhados, destrinchados, ados, ados e ados? E a outra bosta de acidente da Gol – agora apenas o 2º. Lugar dos piores acidentes aéreos da história do Brasil – ocorrido já há 10 meses. Cadê a família das vítimas indenizadas? Fica nesse empurra-empurra de controladores, de dupla dinâmica dos pilotos estrangeiros, do caralho do transponder (foda-se o transponder) e ninguém resolve porra nenhuma.

Meio-dia depois da tragédia (e percebam como esta palavra já não tem quase peso algum), de uma leve coceira no cérebro e de uma praticamente imperceptível comichão na alma, estamos todos de volta à rotina alienante do trabalho, a 23 em breve estará com ambas as vias liberadas e o grande showrnalismo (a notícia como espetáculo) tão logo voltará a focar suas manchetes no vietnã neo-pós-moderno e no eterno conflito dos putos judeus com os eu-sou-vítima, os palestinos.

E no sempre urgente, sucessivamente superando o não-dá-tempo importante, assim vamos levando, mais uma vez anestesiados e conformados que a trivial e banal impunidade tem o mesmo imenso valor e trás tamanho significado tanto quanto a tão difundida desigualdade, palavras que ouvimos desde a longínqua infância e que tão logo aprendemos a incorporar na naturalidade de todos os nosso dias. Tão iguais, tão iguais. Cadê o piloto automático do avião da Tam? Arremeta!

Enquanto isso, dirigidos por um torneiro mecânico, tão incompetente que, se perdera um dedo com um cargo de ínfima responsabilidade, agora perde a cabeça nos levando junto rumo ao inferno, mascarado pela suposta prosperidade econômica.

Puta que o pariu!

Pronto. Desabafei. (Ui!). Que absurdo de minha parte tomar tantos preciosos minutos do meio da manhã do meu super-corrido expediente para articular de maneira chula palavras tão imprestáveis e de um lugar-comum tamanho que afetará tanto a realidade quanto as profecias reveladas no best-seller "O Segredo".

Agora preciso responder alguns e-mails para ontem, retornar ligações para anteontem, retornar o relatório de prospecção para semana passada e fazer aquele uma milhão de coisas absolutamente urgentes. Aliás, penso que não vai dar para almoçar hoje. Aliás, vou cancelar aquela consulta ao dentista de novo. Aliás, não vai dar tempo de ligar para aquela pessoa importante mais uma vez. Tudo super-corrido. Fui!!

Atenciosamente, Cordialmente, Best Regards,
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Dicionário moderno da comunicação social.

Jornalismo: comércio.
Tiragem: produção.
Relações públicas: advocacia, publicidade.
Notícia: babado.
Polêmica: briga em geral.
Imprensa: fábrica.
Capa: embalagem.
Banca: menor unidade de varejo possível.
Leitor: consumidor.
Liberdade: criatividade.

Apuração: repressão, ditadura.
Responsabilidade: checar no Google.
Escândalo: lançamento da estação.
A morte: promoção de vendas.

Empresário de luta é assim. "Quando surge um garoto promissor, eles o agarram, e o expremem, expremem, expremem até não poder mais. Aí eles largam e pegam outro garoto, e depois outro, e depois outro!..." (Ramón Valdez, em "A relação entre a exploração colonial e a desportiva", 1972)

Jornalismo é parecido. "Quando surge um escândalo, um casal global, uma tragédia, um acidente aéreo, um tiro, uma briga, um megaevento, uma eleição, eles os expremem, expremem, expremem até não poder mais gerar renda para a metrópole. Vêm as lágrimas, o inconformismo, que depois perde seu prefixo diluído no tempo das não-provas. Aí largam os restos, ficam em busca de outra mina para renovar o ciclo, porque apurar informação não vende ingresso." (Autor desconhecido, em "O escândalo colonizado", 2006)

Nas seções de indicação e crítica, matérias pagas. As denúncias, somente se interessar aos objetivos do editor. Celebridade vira papa no assunto. Mais Paris hilton, menos Paris-Texas. Não tardará para que tenhamos ficção forjada em nome de uma democracia exemplo RCTV anti-chavista. Mas não tem perigo, porque o previdenpe já sugeriu calar alguns críticos.

O povo? A novela de cada dia, nos enviai hoje. Assim caminha efta colônia. De galho em galho.

O Planeta dos Macacos, o original, principalmente o final, é uma das maiores metáforas já produzidas. E, para o Brasil, nada melhor que um presidente Macunaíma que, ao sinal de trabalho, diz: "Ai, que preguiça!"
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terça-feira, 17 de julho de 2007

Fábricas de diploma

Se estamos na era da Informação, pode-se dizer que atingimos a Revolução Industrial. Porque o que temos produzido em série, em T-fordismo, são os diplomados.

Temos fábricas de currículos surgindo em todos os bairros, e a promessa é óbvia: uma chance de concluir os estudos e ter um futuro brilhante. Tal promessa surge hoje, mas se espelha em argumentos antigos: de quando faculdade concluída era sinônimo de emprego.

E nivela-se por baixo. Muita gente com o mesmo rótulo. O mercado tem a mão invisível, e na tentativa desta mão separar as pepitas do cascalho, exigem, já para cargos baixos, o domínio de duas línguas, pós-graduação, MBA e mais a caralhada de títulos que temos no varejo da informação.

É a política do Wal-Mart na seleção de futuros: levar mais por menos — e com um smile ilustrativo.

Com tanta prensa de currículo, caímos no espiral da oferta-demanda: não basta o diploma, tem que ter extensão logo que se sai do superior; e experiência de cinco anos na área para a vaga de assistente.

O resultado: alta procura por pós-graduação antes dos 25 anos. Uma alucinação vítima das exigências superficiais.

Nessa corrida pelo carimbo no papel timbrado, e, do outro lado, na busca da sala de aula cheia, o comprometimento com o ensino e aprendizado escorre pelo tubo:
  • enche-se a grade horária, que é linguiça, para criar percepção de mais conhecimento aprendido;
  • professores despreparados para fazer o "consumidor" entender sua matéria (temos menos alunos e mais consumidores);
  • listas de presença, porque a prova escrita vale assim como o carimbo em detrimento da ética;
  • faculdades-clube, faculdades-conceito, etc.
Mas há esperança. Pelos resultados da 3ª edição do Enade, que é o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes para 48 carreiras avaliadas, percebe-se que existe insatisfação dos alunos em relação à faculdade prestada. E uma delas é a sensação de que a instituição poderia ter exigido mais.

E não estamos falando de mensalidade.

Em tempo: um amigo acredita que, com o descaso do governo à Educação, é capaz aconteça o mesmo que se deu com as escolas particulares em São Paulo. Há meio século atrás, eram sinônimo de baixa qualidade de ensino, e destinadas a quem não entrava nas escolas públicas, que, também opostas à situação de hoje, eram bem conceituadas. Num futuro bem próximo vai compensar pagar a faculdade, pois ela será comprovadamente mais enriquecedora que a universidade pública. A julgar pela importância dada ao tema, nós de vinte e poucos anos, deveríamos pensar na meia para o estudo dos filhos de daqui outros vinte e poucos anos. E como o pagamento traz desigualdade, carros blindados serão uma boa para nos sentirmos mais protetores, nesse descaso que perdura.

domingo, 15 de julho de 2007

Grande Irmão com faixa verde-amarela

Mais uma vez, a história de Winston do Grande Irmão de 1984 se repete. Temos a reescrita da história, para que os pequenos aprendam desde cedo a nova verdade.

Porque, vocês sabem, a "verdade" é aquela que existe na memória do povo. E a do brasileiro é curta ai-que-preguiça!osa.

Abaixo, um artigo de onde pude conhecer a barbárie. Conferi os links, e é verdade.


Site da Presidência da República distorce história do Brasil

De uma seção didática, voltada para o público infantil, no site de uma instituição como a Presidência da República, deve-se esperar, no mínimo, duas coisas: primeiro, que ela seja educativa e, segundo, republicana. Não é o que acontece no site da Presidência da República Federativa do Brasil.

Em artigo publicado em "O Estado de S.Paulo", o historiador Marco Antonio Villa fez uma breve relação dos erros e distorções ideológicas que compõem a "Versão para Crianças" do site da chefia de Estado e de Governo. No âmbito educacional, trata-se de um problema grave. Em vez de propiciar uma formação para a cidadania, o site tem um caráter desinformativo.

É melhor começar comentando os erros, pois eles são tão crassos que não há como discuti-los. O site diz que a primeira Constituição do Brasil data de 1822, o ano da Independência. Na verdade, ela foi outorgada por dom Pedro 1º à nação dois anos depois, em 1824.

Do mesmo modo, afirma-se que o Duque de Caxias participou do afastamento de dom Pedro 2º. Quando a República foi proclamada, em 1889, Caxias já estava morto havia oito anos.

Os erros não se restringem à história. A julgar pelo que ali se vê, os responsáveis pelo site também sabem pouco a respeito do funcionamento da vida política brasileira, tal qual ela está consignada nas leis em vigor.

No que se refere aos outros dois poderes, por exemplo, segundo ensina a "Versão para Crianças" da Presidência da República, os mandatos dos representantes do povo variam de quatro a seis anos. Ora, os senadores são eleitos por um período de oito anos.

Distorções ideológicas
Ao chegar à história recente do país, os erros fatuais abrem caminho para a eclosão das distorções ideológicas, que não são poucas. Por exemplo, afirma-se que "em maio de 1978, ocorreu a primeira greve de operários metalúrgicos desde 1964". As greves dos trabalhadores de Osasco e Contagem, dez anos antes, parecem não vir ao caso.

Aliás, nada parece vir ao caso nos últimos 30 anos, se não se relacionar com Lula. Como bem notou Villa, o site transforma o atual presidente num "personagem onipresente na história do Brasil", nessas últimas três décadas. Tanto que Luiz Inácio da Silva é proclamado o líder "da mobilização nacional contra a corrupção que acabou no impeachment do presidente Fernando Collor".

Trata-se de um exagero. Lula contribuiu, sim, para o afastamento de Collor, que hoje faz parte da base do presidente. No entanto, a liderança do movimento incluía muitos políticos de outros partidos e instituições da sociedade civil, como a OAB - Ordem dos Advogados do Brasil.

Não bastassem omissões e exageros no trato da história, o site também peca na extensão da biografia de Lula, que é maior que a de todos os outros presidentes da República, como ainda inclui uma biografia de dona Marisa - a única primeira-dama brasileira que tem a vida relatada aos jovens internautas.

O nome que se dá a isso há algum tempo é o de "culto à personalidade" e a pedagogia que dela deriva pode produzir efeitos desastrosos. E aí é que se chega ao X do problema: transformar o site da instituição Presidência da República em peça de propaganda político-pessoal é misturar a coisa privada, particular, partidária, com a coisa pública. Em poucas palavras, é ser anti-republicano.

Vale encerrar lembrando que a idéia de República, nos tempos modernos, sempre caminhou ao lado do conceito de uma educação sem doutrinação, em especial nas repúblicas verdadeiramente democráticas.

*Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação.
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sexta-feira, 13 de julho de 2007

Os Ossos do Barão

Dia 21 de julho, próximo sábado, apresentaremos a montagem da turma Mirian Muniz, que encerra o primeiro de três anos de processo de profissionalização de atores. :)

A peça é uma comédia e se chama Os Ossos do Barão. Conta as tramas de Egisto Ghirotto, um ex-colono italiano que planeja casar o seu filho, Martino, com Izabel, filha da família descendente dos barões - em cujas terras Egisto conseguiu ajuntar sua fortuna.

Será lá naquele mesmo teatro onde apresentei o Experimento Yerma. Teatro do Ator, na rua Franklin Roosevel (da praça Roosevelt), nº 172.

A entrada é quase gratuita: o ingresso custa apenas 1 Kg de alimento não perecível, que será para alimentação desses atores pobretões. (Mentira, é para doação.)

A peça começa à tarde, às 17h. Ou seja, se você tinha planos pra sábado à noite, não interfere em nada.

Terei o maior prazer e apresentar sabendo que meus amigos estarão lá vendo. Mas chegue cedo. Só tem esse dia de apresentação e estou chamando toda a italianada da família, hehe.

Até lá!
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quinta-feira, 12 de julho de 2007

Cristo somente para raros

"Vaticano define Igreja Católica como única religião de Cristo."

É exatamente por posturas como essas que se é "perdoável" que enfiem um avião bem no rabo desses cânones. Eles é que têm a palavra. E quem disse isso? Eles.

Como aqueles fanáticos do Teatro Mágico, que dizem que eles é que são poéticos, eles é que são raros. Guardando as devidas proporções, tudo é uma questão de fanatismo, de pretensão, de soberba disfarçada de poesia ou de missa.

Onde houver espaço para que a fé no improvável permita poderes, mais maliciosos serão os discursos dos escolhidos. Porque deus agora escolhe oficiais caducos para proferir a guerra santa.

Gilberto Dimenstein escreveu bem sobre o tema, e reproduzo aqui o belo texto, mas não garanto que os "raros" (leia "fanáticos de qualquer índole") vão entender.

Esquecendo Deus

Juro que, depois dessa coluna, deixo o tema religião de lado por uns tempos. O problema é que, quanto mais tento explicar meu raciocínio, menos compreendido sou, a julgar pelo crescente número de e-mails que recebo.

Retomemos a questão desde os seus prolegômenos. Não sou contra a religião assim como não sou contra a literatura, o sexo e as drogas. Todos eles podem ser fonte legítima de prazer para quem os usa. E não dá para negar que muita gente encontra conforto junto à religião. Alguns experimentam até mesmo o êxtase. Há ainda quem dela se valha para formar e cimentar um círculo de relacionamentos sociais, mais ou menos como um clube. Para nenhuma dessas funções, entretanto, é necessário que ela seja verdadeira. Aliás, afirmar que determinada religião é falsa é uma asserção com a qual a esmagadora maioria da humanidade tende a concordar, desde que o juízo não se refira a seu próprio credo.

Para que a prática religiosa se mantenha legítima, isto é, mais benigna do que maligna, é necessário antes de mais nada que ela não sirva de pretexto para imposições e violência. Se alguém, mesmo contra todas as evidências, quer acreditar que vinho se converte em sangue, e a hóstia, em carne, tem o direito de fazê-lo. O que não dá para aceitar é que, em nome dessa e de outras idéias às vezes exóticas, derive um código moral e busque empurrá-lo goela abaixo de toda a sociedade, incluindo os que não partilham das mesmas crenças, as quais, vale insistir, têm uma base empírica extremamente frágil, para dizer o mínimo.

E, infelizmente, a história está repleta de guerras e massacres cometidos em nome da religião. Mesmo hoje, em pleno século 21, muitas vezes é a fé que define aqueles a quem podemos matar. Terroristas jihadistas têm o "dever" de matar infiéis. Sunitas e xiitas no Iraque estão, em nome da verdadeira sucessão do profeta, autorizados a dizimar-se uns aos outros. Nós, no Ocidente, lançamo-nos na missão sagrada de semear a democracia no mundo islâmico. Fazemo-lo, é claro, atirando bombas. Aos que inadvertidamente morrem no processo chamamos eufemisticamente de "danos colaterais". Em geral, são muçulmanos árabes, africanos ou asiáticos.

Não estou, evidentemente, atribuindo à religião toda a violência de que o homem é capaz. Ao contrário, estou convicto de que, não fosse a fé, encontraríamos outros pretextos para nos massacrar, como a coloração da pele, o idioma de origem ou alguma outra bobagem do tipo a mão que usa para escrever. É inegável, entretanto, que a religião serviu e está servindo de motor à barbárie. Nesse contexto, e dada a virtual impossibilidade de simplesmente acabarmos com os credos, a medida óbvia que se impõe é conter o fervor religioso das pessoas. Se todos forem um pouco mais relapsos na implementação de mandamentos que cobram a destruição dos infiéis, teremos um mundo mais pacífico.

Também não nego que a religião esteja na origem de coisas, senão boas, pelo menos interessantes, na música, na arquitetura, na pintura e, acrescento por minha conta e risco, na sutil arte metafísica. Só que vale aqui o mesmo argumento da violência. Não é porque essas realizações se deram sob o signo da religião que não teriam ocorrido sem ela, que, de resto, esteve com o homem desde que ele desceu das árvores. Daí não decorre que ela seja a responsável direta por todas as obras humanas, sejam elas boas ou más.

Isso nos leva a uma pergunta interessante. Por que diabos a religião existe? A resposta é mais ou menos óbvia para o crente: para honrar a Deus e pedir-Lhe que interceda por nós. Curiosamente, é entre agnósticos, ateus e outros que buscam uma abordagem científica do fenômeno religioso que a questão se torna controversa. "Grosso modo", há os que lhe reconhecem algum valor, como o de reforçar os laços sociais entre as pessoas numa comunidade, e os que a consideram um mero efeito colateral --e adverso-- da circuitaria cerebral humana. O biólogo Richard Dawkins, por exemplo, aposta que o pendor humano pelo sobrenatural é o resultado inopinado do módulo cerebral que nos torna crianças obedientes, acreditando, sem nenhum espírito crítico, nas histórias que nossos pais nos contam. Especialmente no passado darwiniano, obedecer cegamente aos mais experientes ajudava a manter-nos longe de perigos. Outros autores, como o filósofo Daniel Dennett, elaboram um pouco mais a questão, sugerindo a concorrência de outros módulos neuronais, como a tendência a ver agentes onde só existem sombras (o seguro morreu de velho) e a inventar explicações, ainda que infundadas, para tudo --característica que, embora nos faça pagar alguns micos, pode contribuir para a sobrevivência do grupo.

Sei que nós, seres imperfeitos, não devemos questionar as decisões do Altíssimo, mas convenhamos que não faz muito sentido para um Deus onipotente e benevolente revelar-se na forma de colecionador de prepúcios para os judeus e, para os maias, como um espectador ávido por sacrifícios humanos. A hipótese de que deuses são criações humanas explica muito melhor a universalidade do fenômeno religioso do que a teoria das "sementes de verdade" propugnada pelo catolicismo.

Alguns de meus interlocutores partiram dessa universalidade da religião para concluir que ela é necessária e benéfica. Até admito que, no passado, ela possa ter ajudado. Já não é o caso. A religião acabou tomando rumos que a tornaram uma força mais maligna do que benigna, atuando muito mais para separar as pessoas --e de forma violenta-- do que para uni-las. Um dos responsáveis por essa transformação foi o advento do monoteísmo, tão celebrado por judeus, cristãos e muçulmanos.

É claro que os povos já guerreavam muito antes de Abrão deixar a cidade de Ur, na Caldéia. Só que os combates não costumavam vestir as roupagens da religião. Aliás, nem havia necessidade. Uma das vantagens do politeísmo é que ele favorece o livre intercâmbio de deuses. Um babilônio e um grego tinham inúmeras diferenças, mas, se havia algo que podia uni-los, era justamente identificar as semelhanças entre Ishtar e Afrodite, que se tornavam apenas diferentes nomes da mesma deusa. Com o monoteísmo, veio o exclusivismo. Deus não apenas pedia para ser louvado como passou a exigir a destruição de seus, digamos, concorrentes. Estava aberta a avenida para a intolerância religiosa, que até hoje segue contabilizando vítimas. Nesta semana mesmo, o Vaticano soltou um novo documento que volta a proclamar sua superioridade sobre as igrejas ortodoxas e as "seitas" protestantes. "Quod erat demonstrandum".

A forma como encaramos Deus é, felizmente, mutável. Ishtar, Afrodite, Mitra, Wotan e vários outros panteões foram esquecidos. O próprio Iahweh do Antigo Testamento se tornou, de algum modo, menos raivoso: a grande maioria dos judeus e dos cristãos já não apedrejam aqueles que levam Seu santo nome em vão. É um progresso. E, já que todos os sinais são de que a religião não desaparecerá tão cedo, resta esperar que ela continue se modificando para assumir formas menos destrutivas. Não creio que isso ocorrerá no horizonte de nossas vidas, mas quem sabe no dos netos dos netos de nossos netos.


Amém.
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O produto que fabrico, funciona porque eu fabrico

Se o produto é aplicado na pele, funciona porque entra diretamente em contato, e a massagem estimula a circulação, e...

Se o produto é ingerido, funciona porque vem de dentro pra fora, ou seja, não é só superficial, portanto dura mais tempo, e é mais consistente, e...

Com tais premissas é possível vender um catálogo inteiro de cosméticos, vitamínicos, contra-issos etc.

As provas dos benefícios dos milhares de cosméticos, aplicados ou "engulíveis", são baseadas em dois pilares:

a) é milagroso porque se baseia só na crença (por parte de quem consome) de que ninguém brincaria com uma coisa séria dessas — imagine!, dizer que faz bem só pra vender mais?

b) e se é "concreto", há pesquisas que comprovam a eficácia — pesquisas estas realizadas por encomenda de quem fabrica.

Não nos resta dúvidas de que o cosmético funciona. Inclusive, o lançamento funciona ainda mais que o outro, porque...

(escolha entre a ou b).

Curiosamente, a notícia desses recém-lançados-no-mercado cosméticos orais, que excedem em benefícios e carecem de pesquisas, saiu na seção "Equilíbrio" da Folha, e muitos de nós sabemos que essa obsessão pelo consumo de beleza fast-food é a mais alta prova de desequilíbrio da sociedade cosmopolita do tudo-ao-mesmo-tempo-agora.

É a propaganda e a indústria, incentivando o espelhamento em vidas impossíveis, que fomenta a busca pela felicidade paga, que gera dependência, que gera meta, que gera correria, que gera frustração, que gera estresse, que gera busca fácil de felicidade, e a roda gigante permanece viva.
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Pan e circo

Respeitável público,

no ano passado, vivíamos um escândalo político, até que veio a Copa, que, mesmo trazendo derrota, faz sua função, também política: a de apagar a memória.


Se brasileiro tem memória curta, eu não me lembro bem...

...mas já recebi um e-mail com a quantidade de processos, CPI's, escândalos etc. que aconteceram desde que o país virou democrático; poucos naquela lista quilométrica deram um final feliz — no sentido realmente democrático, ou seja, inexistente, utópico desta colônia disfarçada de barbudinhos fofos.

(Se eu não recebo por e-mail, nem tem como lembrar. É o fowardismo.)

Sentido também utópico, visto que a mídia e o jornalismo têm mais a função comercial do que informativa. É o que chamam de "denúncia por tiragem", porque o que vale mais é ter o que gritar, sem compromisso de apurar.

Neste ano de 2007, depois daquele mensalão, temos pontes do nada ao lugar nenhum, processos que não vêm a calhar, presidentes dizendo que os corruptos são de boa índole etc. Cuidado, que já tá tem povo reclamando. Porque falta educação, comida, emprego.

Reclamando? Saindo uma de muzzarela com ovo! Neste ano tem Pan, o que vai fazer com que as pessoas se esqueçam de novo.


Na foto, trocadilho máximo.


É a política de Pan e Circo, onde o palhaço na verdade é o eleitor.

No ano que vem, Olimpíadas. E em 2010, uma Copa "social", como pressinto que irão nomear. A primeira Copa no continente negro. Com Bono dando o pontapé inicial e Angelina Jolie como cheerleader. Aí o mundo vira bom, [suspiro]...

O esporte e a mídia combinada têm a incrível capacidade de abafar as revoltas e apagar as insurgências e os desafetos dos mais pobres, que continuam achando que o Lula os representa mais que deus. Eu já nem ligo mais. Fui eu que deixei acontecer. Sou eu que acompanho as manchetes pela internet. Sou eu que, na dúvida entre fazer greve e não pagar a parcela do carro, opto por chegar cedo em casa.

No Brasil, a política é de quem quer se aproveitar. Alguém duvida? É carreira. Posso ser empresário e pagar mal funcionários, ou posso ser político e aproveitar do imposto de 40% dos salários pagos. E eu também pago, pelos juros da comodidade parcelada.

É o tipo de espetáculo que põe o espectador no palco. O escárnio dos produtores, o sarcasmo do palhaço, a maquiagem que nos é pintura, o malabarismo do morto cidadão, o circo de cada dia nos dai hoje, mas livrai-nos do mal-estar, "amem".

Eu pago o que eu comprei.

Eu
que
me
fo
d
a
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Pecado capital.

Querido diário sagrado,

estou muito triste com o pessoal que eu abençoei. Eu nunca tive Barbie, nem triciclo, nem almofadas de Buda, nem nada disso que todas as crianças bem de vida possuem como regalias. E pra quê? Tudo para poder me dedicar a essa outra "eu" que vivia dentro de mim. E que, aliás, vivia sem eu ter pedido. Sem pagar pensão, nem dar satisfação. Por causa dela, as pessoas me obrigam a me vestir assim, toda dondoca e feiosa.

Tudo isso acabou. Mas não sei se é bom ou ruim.

Parece que a menina que vivia em mim não tinha passaporte internacional e teve que ficar no Nepal. E quando eu entrei no avião, sem que eu percebesse ela saiu de mim, como ar que a gente expira. Ainda bem, porque eu fui para aquele país da estátua da liberdade, e, não é que eu me senti mais livre? Sem toda aquela multidão andando atrás de mim, finalmente pude comer no McDonalds — o McChicken — e descobrir o que as crianças parecidas comigo, em idade e importância, podem saborear.

Vi umas meninas mais ou menos do meu tamanho encostando a boca na boca de uns meninos que, se fosse lá em casa, seriam meus servinhos. Fiquei horrorizada, com vontade de abençoar aqueles coitados, mas ao mesmo tempo curiosa. E, pra falar a verdade, eu estava mais interessada é na Barbie que eu vi naquela casa colorida e gigante, cheia de brinquedos.

Ai, que confusão!

Quando voltei para casa, o pessoal já não queria que eu abençoasse. Pararam de me reverenciar, e por isso estou triste. Imagina, meu querido diário sagrado, depois de tanto tempo, é injustiça eu voltar à condição normal de criança normal. E eu nem vazei ainda! — Não sei se já te contei, mas dizem que se eu ficasse pra sempre em casa, a menina ia morar até o dia que meu xixi virasse vermelho. Acho que a Kumari não gosta dessa cor; aí então as pessoas elegeriam outra garota pra ocupar, numa eleição com o mesmo olhar sagrado que têm para me proibirem de hospedar a menina.

Ao mesmo tempo que fiquei feliz de conhecer a felicidade nas coisas, me arrependo por ter conhecido. Antes a vida era bem mais fácil, e eu não tinha que trabalhar. Hoje, estou me sentindo como aquela deusa pagã, demoníaca, que é a Eva. Nos contos de terror que meus tios narravam, diziam que essa mulher uma vez deixou escapar tudo que tinha, por causa de sua curiosidade, e guardou só a esperança numa caixa grande e preta. Falam que eu me ocidentalizei, ou seja, me demonizei, e deixei escapar tudo de bom que tinha em mim. Mas a única coisa boa era a Kumari, e eles já mandaram-na pra outra menina, que agora me abençoa.

Eu só queria poder escolher, mas minha religião não permite. Por isso, fico com essa vontade guardada em mim, a única eu que ainda mora nessa caixinha de Mc Lanche Feliz de frango.

Com amor,
Sajani Shakya

PS: na foto, euzinha, tirada pelo telefone que minha tia comprou lá no país do Pateta.
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terça-feira, 3 de julho de 2007

PT 2014

Aqui em Osasco, quando a prefeitura passou das mãos do PSDB para o PT, todos os pontos de ônibus e prêdios municipais foram reformados, repintados. De detalhes azuis, passaram a ostentar o vermelho petista.

Concordo que alguns mereciam reformas. Mas essa decoração sígnica chega a ser marcação territorial.

Por falar nisso, eis que é lançado o logo da campanha da Copa 2014 no Brasil.



O Duplipensar de fato percebeu algo interessante:

A bandeira do Brasil tem a cor vermelha? Não.
A bandeira do partido do Ministro dos Esportes tem a cor vermelha? Sim.
A bandeira do partido do presidente da República tem a cor vermelha? Sim.

Não duvido se um dia a seleção apresentar um uniforme vermelho em homenagem aos políticos do governo.

Além disso, esta marca usa uma seqüência de cores idêntica às do Google. Compare as cores das últimas letras (OGLE) do logo da Google com esta marca pró-Lula, digo, pró-Copa do Mundo 2014.

2014 já começou.

A letra "L" dentro do "4" é mais uma coincidência?

Se eles não alterarem a Constituição para dar mais um mandato para Lula, o atual presidente só poderá disputar uma eleição presidencial em... em... em... 2014!

Você já cansou de ver a logomarca oficial do governo federal da gestão Lula. Aquela com várias cores e com a letra ?L? de Brasil em vermelho. Pois é. Mais uma incrível coincidência...
E aí? É nóia minha?
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segunda-feira, 2 de julho de 2007

A pedra do sapato

A Pedra do Reino, no teatro, não pude conferir. A Pedra do Reino, nas páginas, é um de meus desafios de leitura. E a versão televisiva eu não teleespectei, porque no meu quarto não tem TV. Aguardarei¹ o DVD.

E enquanto imaginava como seria, apenas conferi críticas sobre o fracasso da microssérie global. Falavam que não tinha tido audiência às onze da noite porque não era linear. E porque o brasileiro não está acostumado com linguagems ousadas, não-lineares, que façam pensar. Ou que o público esperou do rótulo "do mesmo autor de o Auto da Compadecida" algo que seja inteligente, mas menos refeição e mais fast food.

Isso me leva a pensar no que é a mídia, a arte a cultura. Existe a tal lobotomia cerebral que os grandes veículos impõem ao público? O povo é burro e não entende mestres como Suassuna? O povo representado por tais escritores merece ser representado nessas obras de baixa ininteligibilidade? Foi o diretor que não soube traduzir para uma linguagem televisiva mais "chá com bolachas" que supõe ser o horário pré-ronco? O povo sabe ter arte? "Tudo é cultura" nivelou por baixo os maiores incitadores de pensamento? Ou o fato foi muito alardeado?

Pra mim, a resposta é aquela dualidade do tostines-que-é-fresquinho-que-é-tostines. Não há resposta pontofinálica.

A dúvida me distrai. Eu estou entrando aos poucos no ramo artístico. Pretendo começar a terminar meu primeiro livro a partir de agosto, que será de uma folga pré-término da montagem da peça da minha turma de teatro². Nele e em outros rascunhos, tenho idéias que penso serem legais. Tento sair da associação glamuroso, a da "arte vendável". Da arte sustentável. Meu pai que gastou um carro no pagamento da faculdade, o pai psicológico que me persegue; o rendimento. De berço burguês, também penso se eu estou disposto a me arriscar ao "fracasso de audiência" que o nível cultural brasileiro, e político, fracasso que é sombra da grande luz ofuscante que é a verdade platônica da arte por ofício.

Mas acho que não posso ter essa dúvida por mais um ano.
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¹ Escrever o verbo "aguardar" no futuro parece erro lógico ou redundância. Quem aguarda, já aguarda por uma ocasião futura. Aguardarei já é aguardo. Papo de letra aguardente. Né?

² Ossos do Barão ficará em cartaz apenas dia 21 e 22 de julho, no Teatro do Ator. Escreva-me um e-mail para mais informações.

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A vingança de Hitler.

Um congresso de psiquiatras escoceses têm a seguinte história pra contar. Hitler se apaixonou por uma prostituta enquanto ele era bem mais jovem, lá pelos meados de 1908. Levou pro abate, não usou tripa de carneiro e... pegou sífilis. Aí, quem ficou puto foi ele.

Na época, a doença era incurável, e as conseqüências de seu estado avançado, a neurossífilis, é loucura, paranóia e mudança brusca de humor. A prostituta era judia, e foi esse povo a vítima de suas loucuras, paranóias e mal humores.

Foi a vingança de Hitler.

Saiu na BBC, mas perdi o link e só encontrei esse.

Habeeb, autor da teoria, já conduziu outras pesquisas semelhantes. Como, por exemplo, sobre o grau de influência que possíveis demências avançadas haveriam tido em personalidades como Stálin.

(Gostaria de saber se o Bush tem sífilis.)

O tema me interessou porque fiquei pensando o quanto a humanidade é vulnerável. Basta um cara pegar sífilis e milhares de pessoas morrem por ele. Bota teoria do caos, de ação e reação nisso! Na certa a garota é uma das mulheres que mudaram o mundo. Do jeito que o homem é vulnerável às seduções femininas, é capaz de que por trás da maioria das decisões políticas tenha existido uma amante com esse vírus da paixão. A História é apenas uma versão ensinável para os novos dominados.
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Da crítica ao golpe (Carta Capital)

Para quem quiser saber de algumas verdades - e disfarces, obviamente - sobre a RCTV, recomendo a entrevista da Carta Capital. pra ler, clique aqui.
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