domingo, 26 de agosto de 2007

Cotas em universidades públicas

Dizem: igualdade entre raças!
Fazem: cotas!

Ubaldos, Freires e Holandas se cansariam de explicar as raízes do brasileiro branco-rico-nego-pobre que somos hoje. Só não explicaram o porquê do atual tupiniquim reagir, com diferenciação, à própria diferenciação, que nos desafia enquanto políticos.

Na África do Sul também fizeram isso. Nos transportes públicos separaram uma cota de bancos destinados aos negros. Lá se chamava apartheid. Na bondosa língua portuguesa-brasileira, é solidariedade.

Sem investimento indesviado em educação e infra-estrutura, não há (in)diferença social que se amenize na história. Ou, então, assumamos de vez que nosso curso é uma luta de raças.

Separei alguns parágrafos de um artigo do Luis Bistulfi que li a respeito no Duplipensar. Comentei entre chaves. Vale a pena lê-lo todo.

Entre os principais pontos do Estatuto da Igualdade Racial estão: a obrigação do cidadão em declarar sua raça [considerando a nossa miscigenação, é quase um insulto]. em todos os documentos oficiais, reserva de cotas raciais que vão desde o serviço público até programas de TV e uso do dinheiro público para criação de uma programação de interesse do público afro-descendente. Esses pontos são especialmente danosos à sociedade. Eles promovem uma divisão da população em raças, ferindo o princípio da igualdade, estabelece privilégios a um determinado grupo racial, sem contar que não é possível definir com exatidão o que vem a ser de interesse do público negro. No fim, alguém acabará tomando uma decisão arbitrária sobre o que interessa ao público afro-descendente. Segundo o geógrafo Demétrio Magnoli, "A nação, como um contrato entre cidadãos iguais em direitos, será substituída por uma confederação de 'raças'. Evidentemente estão sendo plantadas as sementes dos conflitos étnicos no futuro".

Fica clara aqui a intenção de colocar nas mãos do Estado o dever de impor aos cidadãos valores considerados como virtuosos e a capacidade de moldar a sociedade através de políticas específicas. Não bastasse isso, a lei propõe que os cidadãos deixem de ser tratados individualmente coletivizando-os a força de modo a serem tratados de acordo com o grupo racial a que pertencem. Estipulou-se até mesmo uma diferenciação entre discriminação negativa e positiva. A primeira refere-se ao tratamento de um grupo de maneira diferenciada com o objetivo de menosprezá-lo. A segunda se refere a ações que visam equiparar pessoas ou grupos que são discriminados negativamente. A diferenciação é artificial [a diferença é que num ele sorri, no outro xinga. No fim é hipocrisia do mesmo saco]. Cada cidadão deve ser tratado singularmente e de maneira igual aos demais independente de credo, cor, sexualidade, etc. O que esse projeto de lei propõe é a pura e simples institucionalização do racismo, algo jamais visto no Brasil no período pós-abolição.

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terça-feira, 21 de agosto de 2007

Artigo 'Renan e os negócios obscuros da Abril'

Eu, hein?

Depois de ficar sabendo das histórias entre concessões e coronelismo de ACM & Sarney com a Globo, agora vem mais essa pra mim. O grupo Abril, segundo artigo de Altamiro Borges, estaria envolvido:
  • nas obscuras transações ente Telefonica e TVA;
  • a grupos mediáticos racistas do apartheid da África do Sul;
  • a interesses editoriais de corporações dos EUA;
  • aos mesmos personagens que tentaram desbancar não-democraticamente o governo Chávez;
  • e, como já está na cara, ao PSDB, incluindo aí as manobras de Marcos Valério.

Os cães da liberdade de imprensa não são os mais bem intencionados.

Dá uma lidinha, dá?
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Vaticano e CIA apagando a memória.

A Internet é livre porém vigiada. E dessa vez estou enaltecendo a vigia.

Felizmente tem gente que consegue ver as manobras obscuras até daqueles cuja verba lhes permite bancar a manta da webinvisibilidade. A Wikipédia, a tal enciclopédia livre, hoje destino de muitos colegiais e universitários em busca de trabalhos rapidamente criados, como muitos sabem, é um local onde você pode colocar informações sobre algum assunto que você conhece bem. Se eu entendo da biografia de Ghandi e quero compartilhar esse conhecimento, vou lá no Wiki, abro um campo "Ghandi" e escrevo a minha versão de sua biografia. É um site em eterna construção, onde muita gente de alma boa entra na filosofia do projeto; mas promove a ilegitimidade dos fatos, pois não há um deus que diga o que é certo e errado, e quem pode "denunciar" erros são os próprios usuários. Ou seja, se eu dissesse que o líder indiano era homofóbico nas horas de lazer, a informação estaria lá até que alguém corrigisse ou denunciasse o erro.

Dizem que se é de todos, também é de ninguém.

Wikipédia é como se fosse uma simulação da escrita da História. Vamos brincar de versões?

E aconteceu o que era de se esperar. A partir do momento em que havia informações até mesmo jornalísticas — referentes, no caso, ao projeto de presidência do mandatário iraniano, e também sobre o envolvimento de um padre católico em certo assassinato —, os "interessados" deram um jeito de apagar a informação de acordo com sua política de transparência. Segundo um programa que "pega" fraudadores de páginas do Wikipédia, a CIA editou o que se refere ao Irã, e o Vaticano (sim, eles mesmos, os santinhos) apagou os links da página que levavam às matérias de jornal sobre o assassinato de colarinho.

Atenção, Dan Brown, que isso deve dar uma boa história.

Apagar uma documentação é procedimento típico de manipulação informação, gesto que já foi bem escrito por George Orwell em 1984 e Revolução dos Bichos. São manobras para esconder aquilo que, se levado a público, pode abalar as estruturas de poder estabelecidas ao longo da História.

Seria exagero dar tanto destaque a tal manipulação, num site cuja própria filosofia se permite ser editado sem veracidade dos fatos? Se elevarmos isso a acontecimentos onde não havia a tal liberdade de Internet, não.

A bíblia ficou quantos, mesmo? — uns três séculos? — sob "Tutela" da Igreja Católica. Somente alguns indivíduos de altos cargos (empresa mesmo) tinham acesso ao documento. Quem domina a comunicação domina o povo, e eu, em meu ceticismo, acredito que, sim, aquele partido deve ter manipulado o documento oficial do catolicismo conforme lhe convia.

Aliás, se tal pensamento não estivesse presente no ser humano em geral, Dan Brown não seria best-seller.

A própria versão que lemos na escola da História do mundo não é senão a versão de quem escreveu, de quem não morreu em batalha e, principalmente, de quem dominou os povos. Nunca tive acesso à versão africana, indígena e asiática da exploração. Os próprios demônios ditatoriais podem ser mais uma farsa maniqueísta para condicionar o pensamento da civilização.

E quanto à CIA... Bem, ninguém aqui é trouxa de acreditar nos cães de guarda do Bush, certo?

Religião, política, comunicação... Gostaria de tê-los separados para poder escrever sem freios, e também sem referência a gostos ou preferências. Infelizmente estão mais ligadas, tão indissociáveis, e com sujeiras tão difíceis de provar (nem o Lula, o Democrático, permite acesso aos documentos da ditadura...), que nos forçam a pensar apenas no campo das idéias, das possibilidades.

E os maiores comunicadores de não-informação já estão moldados à característica e tendência da nossa era: acomodarmos à tecnologia. Ela vem para deixar a vida prática, limpa e confortável. Mas vira dependência, objetivo de vida e, a partir disso, passamos a viver para poder viver conforme diz o anúncio. Nessa pressa por conseguir tudo que a loja e a novela nos oferece, nos permitimos a comodidade da informação no colo: a Internet que diz a verdade. Se é de todos, não é de ninguém. Caímos na ignorância parcial — que pode ser pior que a ignorância total.

Ainda bem que, mesmo livre, há quem vigie. Porque a liberdade dada nas mãos do poderio leva à não-informação, vide Globo, Abril e demais máfias que nos oferecem a comodidade da webgratuidade em troca do nosso raciocínio superficial. Discutir tudo isso trata-se de escolher entre a pílula azul ou a vermelha. Uma delas nos seda.

Mas eis o dilema: se você não tiver meios, a outra opção nada mais é que placebo. Voltamos à Estátua da Liberdade, enterrada na areia da praia. Descemos do cavalo, nos ajoelhamos perante o monumento e perguntamos: O que fizeram com a gente?!
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sexta-feira, 10 de agosto de 2007

A arte crítica no xadrez.

Vejam só, que bela liberdade de expressão, que belo país democrático. O artista gráfico Carlos Latuff desenhou imagens do lado B do PAN para expressar seu ponto de vista sobre o evento. Um dos desenhos mostrava um policial recolhendo um menor de rua. Outro, Cauê empunhando um fuzil.

E então o espírito da censura baixou. O que aconteceu? Teve um pedido de prisão por uma delegada pra lá de democrática.

"Deus fez o homem perfeito: um ouvido para vaias, outro para elogios."

Belas metáforas, belos discursos. Isso sim é arte.

E afasta de mim este cálice...


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quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Vaia merda.

Vaiar presidente é uma coisa. Vaiar atleta enquanto este se concentra, é outra.

Mas temo que seja do mesmo saco.

Burro, burro, burro. Um nacionalismo burro. Um nacionalismo que direciona a festa somente aos brasileiros — em vez do esporte em si. Um nacionalismo que bem merece efte previdente.

Uma classe que, liderada por um cestinha ídolo (no meu caso, é ex-), vaia meninas de 13 anos só porque elas concorrem com as medalhas brasileiras, ou porque simplesmente são dos EUA. "Isso, vai, Brasil, vamos favorecer nossa equipe. Vai, Brasil, façamos barulho e atrapalhemos nossas adversárias. Vaia, Brasil, zil, zil.

Uma vaia bem gorda para nós, sujos e desonestos. E palmas à hipocrisia de quem anda em passeata contra corrupção, mas vaia atleta. E mais palmas ainda a um espetáculo brasileiro, televisionado com deturpação jornalística (do contrário, a gente veria medalhista norte-americano e cubano).

Leiam os trechos abaixo do artigo A brava gente brasileira, de Larissa Grau.

O Brasil do Jornal Nacional é um misto de três correntes de interpretações sobre nosso país. É uma mistura dos pensamentos sociais de um Estado demiurgo da sociedade, do patriarcalismo e de uma sociedade realizada por meio da representação de alguns tipos ideais.

No primeiro caso, temos um Estado que é desconectado da sociedade e que dela independe. Esta parece um subproduto mal acabado daquele e que, ingênua, desorganizada e débil, fica à mercê de atitudes autoritárias. No segundo caso, é uma nação regida por interesses oriundos de laços de parentescos, apadrinhamentos e interesses pessoais. Uma interpretação que não esquece, também, a informalidade inocente de um povo multiétnico.

Essas duas primeiras teses complementam-se e servem-se reciprocamente, como afirmaria o sociólogo Otávio Ianni. Se o povo é inocente, então necessita de um Estado que o tutele e oriente e é aí que se justifica a representação de um Estado onisciente, ubíquo e oligárquico e que não precisa atender aos anseios de sua sociedade civil, a qual, por sua vez, se guia por sentimentos passionais e subjetivos.

[...]

A torcida alegre e vibrante do Jornal Nacional – e que foi "um espetáculo à parte" – é a mesma que vaiou os atletas estrangeiros e torceu para que falhassem em suas performances. Um de nossos maiores ídolos do esporte, de quase 50 anos de idade e contratado pela emissora em questão, foi aquele que gritou em um estádio para que garotinhas de 13, 14 anos caíssem de seus aparelhos de ginástica olímpica. Para a locução global e emocionada, tal vibração foi um exemplo de amor à pátria. Esse Brasil, só a Globo não revelou. Como não tem revelado que nossos dirigentes somos nós e, quem sabe, não seríamos corruptos se estivéssemos "lá".

Se alguns de nós conquistamos o pão de cada dia com o fruto de nosso suor, somos também uma nação de "espertos", dentro da representação dos tipos ideais. Apesar de sermos um espetáculo à parte, continuamos a corromper o guarda de trânsito que nos multa e a querer prisões melhores, ou mesmo o perdão, para os nossos filhos que fazem faculdade, mesmo que eles tenham espancado uma doméstica na rua. Arrastamos nossas crianças até a morte pelas ruas e tampouco nos incomodamos com a morte delas nos morros das cidades. Jogamos lixo nas ruas pela janela de nossos bons carros e o público, desconectado de nós por se originar do Estado, pode ser depredado. Se o Estado rouba, por que não eu? E somos também aqueles que acham bacana sonegar o Imposto de Renda, justificando que o Estado não nos dá nada em troca.

Enquanto acreditarmos que esse Brasil é dividido em dois, que os atos de nossas autoridades não contêm o nosso DNA, muito pouco poderemos efetivamente realizar. Nessa retro-alimentação de um estado de ignorância, o Jornal Nacional nos representa, quando lhe convém o fervor ufanista, como uma única e sólida entidade estereotipada.

Dessa forma, não são reduzidas somente as nossas múltiplas e fragmentadas representações, mas, junto com elas, as nossas possibilidades de uma ação cidadã que se realizam somente por meio de nosso Estado.

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Perfil de ACM

Um perfil interessante sobre o coronel do acarajé, falecido. Aqui.
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Jornalista derrapa e se choca em depósito ético

Na TV, noticiários que tinham como foco a exploração da dor alheia. Câmeras nas lágrimas, câmeras nas bocas! Na carnificina! Açougue diretamente na sua casa, aproveite!

Um corpo carbonizado! Vamos entrevistá-lo!


— Senhor pai que perdeu o filho, qual o sentimento que se tem quando se perde um filho?
— ...
— Vocês, que estão nos acompanhando na cobertura da maior tragédia da aviação brasileira, podem perceber a comoção dos familiares que perderam pessoas nesse acidente. Por favor, senhora, o que você tem a dizer para os responsávei desse... pode mostrar o rosto, sim?
— ...
— Os telespectadores podem notar a tristeza de um ente que acaba de perder outro ente. Até quando teremos que suportar isso? Bonner.

Democracia da informação. Liberdade de imprensa.

E a comunicação social é um céu de urubus.
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Pobres e nojentas

De caras e bocas eu já estava coroa de saber. Se isto é gente, vivo na subrrealidade. Flash, flash! Captou-se a próxima fatura pela íris pelicular.

Quem?

Feliz fico em saber que há minúsculos veículos sérios, sem o sarcasmo do paparazismo ocupando a pauta de quem não cuida de si mesmo.

"A revista Pobres & Nojentas pretende — com ironia, mas também com seriedade — se contrapor à superficialidade do chamado “jornalismo de gente”, um tipo de publicação que investe na divulgação de informações sobre a vida dos ricos e famosos. Na Pobres & Nojentas o foco está no povo que trabalha, luta e constrói mundos.

"No meio capitalista e até mesmo no socialista, a democratização da comunicação dificilmente acontece, pois a imprensa atual só abre espaço para mercantilização da notícia ao abordar assuntos que em sua grande maioria são superficiais e chamativos." (daqui)

Ah, ah ironia! O chocolate amargo dos que negam a face escarnívora mediática. Mas, ainda que liliputianas, ainda há iniciativas contra a superficialidade retroalimentadora do jornalismo de coluna social. Coluna social de um ser humano molusco.
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Caça à RCTV

Gato e rato.

Chávez está logo atrás dela, onde ela, a RCTV, estiver. Agora que a emissora é paga — ou seja, mais elitista do que já era —, o comandante quer obrigar os canais de TV por assinatura a transmitirem as mensagens ufanistas e, quem sabe, deturpadas, que o governo produz acerca de suas façanhas.

Será medo? Por acaso no andar de cima a elite venezuelana é mais ativa do que nossos cansados?
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quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Papa-tudo


Saiu na revista italiana L'Espresso nº 30 uma reportagem sobre uma das mais importantes funções (e se for a mais eu não estranho) de um papa ao cristianismo: levantar os fundos da igreja.

Afinal, mais importante que a propagação da palavra, é a propaganda (cujo significado começou na própria religião) e o
Retorno Sobre Investimento que se obtém com em publicidade, show-cultos, papa-móvel... E o investimento é contabilizado na moeda Bondade dos Fiéi$.

A Conta Sagrada

A Fallon, agência internacional, tem na carteira um santinho. Ou melhor, a conta da igreja católica em países como os EUA e Reino Unido. A campanha é cativante. Mas para mim soa no mínimo estranho que religião seja anunciada como serviço e, o nome de Jesus, usado "em vão". Veja um, dois anúncios clicando. Vendem a igreja como algo legal, e Jesus como um revolucionário. É como dizia Dona Neves: che, che, che, che!

Para ver o site da organização que promove todo ano uma campanha para arrecadar, digo, chamar mais fiéis, clique aqui.

Sobre os números do Papa-tudo, aqui.

Sobre o site dos caras que são contra todo esse marketing religioso, aqui.

B-Ocombustível

Uma nota sobre o combustível.

De um lado temos o lobby, grupo de defesa tanto dos interessados (UE, EUA, AUÊ) quanto dos políticos/empresários brasileiros — e não saberemos se realmente acreditam ou se é tudo jogo para tentar vender o produto. Eles defendem que o álcool trará benefícios ao mundo a médio e longo prazo.

Do outro, a turma do contra diz que para produzirmos o álcool verde ou os grãos destinados ao combustível, muitas terras hoje utilizadas para cultivo de alimentos-para-alimentação teriam que ser deserdadas.
  • as condições de trabalho nos canaviais não são lá muito humanas; deveríamos dizer que a escravidão voltaria com apoio dos governantes;
  • os nordestinos sabem muito bem no que as terras canavieiras se transformaram;
  • elevariam os preços dos alimentos, pois a oferta diminui e a demanda continua a mesma; com isso, a fome cresceria no mundo.
Mas o lobby diz que não.
  • que teremos fiscalização;
  • que teremos competência;
  • que o subproduto da produção serve de alimento aos animais, ou seja, o processo final se compensa e o preço permanece o mesmo; quanto à fome, a geração de emprego seria a fonte de renda responsável pelo combate.
Acho que podemos confiar, certo?

Colonialismo ressurgido versus massas abafadas. A voz do povo contra a voz dos deuses. Uma manobra que cheira queimada, assalto, crime democrático, um B-O para o biocombustível. Quem realmente ganha nesse investimento? Quem ganha essa disputa entre o Rolex e a fome? Quem será...



a próxima vítima.
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