terça-feira, 20 de outubro de 2009

Pobreza, consumo, esperança...

Retirei do site Carta Maior, carta da professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) em que pede demissão do Board of Global Research on Human Settlements da Organização das Nações Unidas. Destaco um trechos preocupantes. A carta na íntegra está aqui, clique com o botão direito pra ler.


É preciso reconhecer que tivemos avanços especialmente no reconhecimento sobre a realidade das cidades. [...] No entanto, [...] as cidades do mundo não melhoraram. Ao contrário, na maior parte dos países pobres a população moradora de favelas aumentou, o transporte coletivo piorou, as epidemias se multiplicaram e não por coincidência (como por vezes querem fazer crer alguns colegas), aumentou também o desemprego e a violência.


[...] Trata-se da ausência da esperança no futuro especialmente entre os jovens cujos valores são cada vez mais determinados pelo fetiche do consumo. De fato, os imperativos de um modelo de consumo que é universal, e que inclui a arquitetura do espetáculo, nos países do núcleo hegemônico penetram as mentes e corações de grande parte da humanidade, que se mantém na pobreza, em condição pré-moderna sem acesso aos direitos elementares como água, esgoto, moradia, saúde, mas convivendo frequentemente com gadgets eletrônicos. O poder do mercado é avassalador.


[...] Mas nada disso acontece por acaso. E dentre as muitas causas é preciso apontar claramente o papel da concentração de poder, da expansão desregulada dos mercados e das receitas neo-liberais no aprofundamento dessa tragédia urbana que contou com a colaboração de diversas agências internacionais, por mais de duas décadas. [...] A terra, seja urbana ou rural assume um papel revisitado na globalização determinando a desterritorialização de camponeses e indígenas e o aumento da segregação urbana, dificultando até mesmo os poderes locais de implementar políticas sociais de habitação.


A matriz de mobilidade baseada no automóvel (incluindo aí a produção, refino e distribuição do combustível poluidor) desafia toda e qualquer proposta ambientalmente e socialmente racional e se amplia internacionalmente com subsídios polpudos após a eclosão da crise de setembro de 2008.


Desafio para as próximas gerações. É morrer tentando ou morrer alienando.