Diplomas T
A cada ano, 10 mil médicos são postos na rua sem terem nenhuma residência. Ué, mas são engenheiros civis? Os novos sem-teto? Não, são os números de médicos que se formam por ano, segundo o estudo do Gilberto Dimenstein.
__Ah, sim: residência (médica) é o curso de duração variável que os médicos, após sua graduação, realizam geralmente em um hospital, a fim de se especializarem. Resumindo, é isso: muita farinha saindo, pouco forno assando. Você já sentiu que comeu um pão pastoso no consultório? Ou em qualquer outro serviço especializado não-técnico? Eu já.
__Uma vez fiz dois exames oftalmológicos para conferir se meu grau de miopia e astigmatismo haviam estagnado. Os resultados foram diferentes. Bem diferentes. Tive que consultar um terceiro, tirar a média e... Mentira, fui pelos dedos iguais. E quem se diferenciava era o doutor apenas cinco anos mais velho que eu.
__Semeei meu preconceito a partir de então.
__Que tipo de bola de neve estamos entrando com esta equação? A população cresce, deseja se profissionalizar (já que o ensino Médio no Brasil não merece nem o nome de Médio), surge a demanda por cursos superiores, e qualquer empreendedor (ou mesmo picareta), dotado de algum conhecimento mínimo em negócios, poderá abrir salas de aula, laboratórios, quadros brancos, projetores, e recuperar em doze, quinze meses o que investiu na construção, divulgação, contratação de docentes etc. Se tem que queira, há quem abra.
__Sinto podridão quando educação e cultura são tratados como negócios-e-só. No discurso, "nós queremos um Brasil melhor". Na prática... Ah, mas na prática...
__Todo ano novas universidades inauguram campus, contratam professores, cobram suas mensalidades, papagandeiam o sonho do curso-próprio-sucesso-terno-e-gravata sem vestibular aos menos favorecidos, e, voilá! — em alguns anos teremos um alto índice de pessoas formadas não praticantes, ou desempregadas, ou de médicos cujos livros foram meramente folheados, metade de recém-formados que não conseguem seu CRM, aumento de denúncias de pacientes contra "maus tratos" (o que, no meu caso, seria o do oftalmo ruim de mira), advogados abrindo pousadas, publicitários abrindo franquias de fast-food, engenheiros taxistas etc. Um mercado farinhento.
__Preconceito, estereótipo, generalização, eu sei. Graças a tais novas faculdades, é verdade, alguns brasileiros esforçados conseguem ter seu espaço no mercado. Mas o resto... E, você, é, você mesmo, sabe que, ah, mas o resto...
__No início do século passado havia o fordismo. Hoje, temos na mesma linha o canudismo: carimbo de grades, carimbo de presença, trabalhos nas costas, e pronto! Saindo mais uma formada fresquinha. Só não há garantia de fábrica.
__Quer garantia estendida? Vamos às pós! Pós-tergar o que era pra ter visto na faculdade (pior que existe). Tem muito moleque que vai do colégio à universidade, e dela para a pós, pulando amarelinha. Cursos assim deveriam ter pré-requisitos; experiência é uma delas. Se o único filtro que separa um graduado de um pós-graduado ou embiei-graduado é o boleto pago, uma hora tal certificado também será carne de vaca.
__Confiemos, pois, nos extraordinários da vida. Nas frestas da casta e nos becos do mapa.
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__Ah, sim: residência (médica) é o curso de duração variável que os médicos, após sua graduação, realizam geralmente em um hospital, a fim de se especializarem. Resumindo, é isso: muita farinha saindo, pouco forno assando. Você já sentiu que comeu um pão pastoso no consultório? Ou em qualquer outro serviço especializado não-técnico? Eu já.
__Uma vez fiz dois exames oftalmológicos para conferir se meu grau de miopia e astigmatismo haviam estagnado. Os resultados foram diferentes. Bem diferentes. Tive que consultar um terceiro, tirar a média e... Mentira, fui pelos dedos iguais. E quem se diferenciava era o doutor apenas cinco anos mais velho que eu.
__Semeei meu preconceito a partir de então.
__Que tipo de bola de neve estamos entrando com esta equação? A população cresce, deseja se profissionalizar (já que o ensino Médio no Brasil não merece nem o nome de Médio), surge a demanda por cursos superiores, e qualquer empreendedor (ou mesmo picareta), dotado de algum conhecimento mínimo em negócios, poderá abrir salas de aula, laboratórios, quadros brancos, projetores, e recuperar em doze, quinze meses o que investiu na construção, divulgação, contratação de docentes etc. Se tem que queira, há quem abra.
__Sinto podridão quando educação e cultura são tratados como negócios-e-só. No discurso, "nós queremos um Brasil melhor". Na prática... Ah, mas na prática...
__Todo ano novas universidades inauguram campus, contratam professores, cobram suas mensalidades, papagandeiam o sonho do curso-próprio-sucesso-terno-e-gravata sem vestibular aos menos favorecidos, e, voilá! — em alguns anos teremos um alto índice de pessoas formadas não praticantes, ou desempregadas, ou de médicos cujos livros foram meramente folheados, metade de recém-formados que não conseguem seu CRM, aumento de denúncias de pacientes contra "maus tratos" (o que, no meu caso, seria o do oftalmo ruim de mira), advogados abrindo pousadas, publicitários abrindo franquias de fast-food, engenheiros taxistas etc. Um mercado farinhento.
__Preconceito, estereótipo, generalização, eu sei. Graças a tais novas faculdades, é verdade, alguns brasileiros esforçados conseguem ter seu espaço no mercado. Mas o resto... E, você, é, você mesmo, sabe que, ah, mas o resto...
__No início do século passado havia o fordismo. Hoje, temos na mesma linha o canudismo: carimbo de grades, carimbo de presença, trabalhos nas costas, e pronto! Saindo mais uma formada fresquinha. Só não há garantia de fábrica.
__Quer garantia estendida? Vamos às pós! Pós-tergar o que era pra ter visto na faculdade (pior que existe). Tem muito moleque que vai do colégio à universidade, e dela para a pós, pulando amarelinha. Cursos assim deveriam ter pré-requisitos; experiência é uma delas. Se o único filtro que separa um graduado de um pós-graduado ou embiei-graduado é o boleto pago, uma hora tal certificado também será carne de vaca.
__Confiemos, pois, nos extraordinários da vida. Nas frestas da casta e nos becos do mapa.
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