sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Garrafas vazias.

A peça de roupa, feita sob medida daquele que vive para vestir peças sob medida — e ser fotografado nelas — não necessariamente cabe em mim.

Não necessariamente e provavelmente nem. Mas ainda assim os padrõezinhos dizem pra mim que meu ar, quando vestido, vai parecer o ar sentido na página do anúncio de calça jeans.

O magror é o sarcasmo que as grifes publicam contra o estilo de vida que não necessariamente tende a nos esbeltar. Progresso amigo, tu és cômodo, és delicioso, mas feio...¹. Mais feio ainda sou eu, é o que me diz esta modelo em ar de gozo.

Sarcasm. The way you'd like to.

Oliviero Toscani é apedrejado pelos publicitários por fazer não-publicidade. Fã de seu trabalho, aprecio sua crítica ao cadáver morto com que nos sorriem as modas². A mais recente das polêmicas do fotógrafo gira em torno da anorexia: utilizou uma modelo de 31 Kg para sua campanha.

"Toda a publicidade de moda e as revistas e os jornais de moda se afastaram dela [a condição humana], se tornaram abstratas, esvaziaram o ser humano. A gente olha essas campanhas e vemos o vazio, e dizemos a nos mesmo: essas pessoas são como garrafas vazias", diz Toscani.

Não vejo humanos em poses pseudo-sexys. São corpos cujas roupas representadas não nos caberiam. O que nos força a diminuir medidas até (a)parecer saudável. E, por serem corpos sem a vida, corpos sem vida, são estes tais cadáveres. Espelhamo-nos em manequins sem pupila.

"Todos cagam. Uns mais rosas."

O consumo desumano consome o que há de humano, longe da perfeição.
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¹ Conto Os faroleiros, Urupês, Monteiro lobato.
² A publicidade é um cadáver que nos sorri: ISBN: 8500931957

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