quinta-feira, 30 de abril de 2009

A arma do sexo forte

Clichê é papagaiar a expressão mulher-sexo-frágil. Frágil? Então tá. Eis o que é a greve de sexo. Homens ficam anos, décadas, séculos desenvolvendo maneiras mais devastadoras de aniquilar o inimigo, fazer a Guerra, para, de repente, ao entrar no quarto da patroa, encontrar não um vale de prazeres, mas um par de pernas cruzadas em protesto, um par de pernas comandadas por uma mulher que diz: ou sai da guerra, ou aqui não entra.

Fim da Guerra, meus senhores. E ainda há quem diga que os neurônios que constroem a bomba atômica, os músculos que subjugam os fracos, os chicotes que abrem valas sangrentas nas costas de carne ébano, são do sexo mais forte. Estão lá, nos Congressos, nos pleitos, banhas masculinas, ternos beges, púbis gordos e sedentários a ditar o rumo das nações.

A paz está nas mulheres. O equilíbrio da existência. Aí estão para balancear a animalia dos machos. Com um fechar de pernas. Um fechar de portas. Como Lisístrata, a ateniense de Aristófanes que reuniu tanto conterrâneas quanto espartanas para, juntas, trazer paz à Grécia. É a mulher daqui se aliando com a e lá, forçando guerreiros de ambos os lados decidirem entre os portões da guerra e os portais do amor. A Batalha do Peloponeso chega ao fim e ambas cidades celebraram, nesta peça, a fluidez, o vinho, a paz, o orgasmo. Um suspiro pela vida que existe. E pela que virá.

Dos milênios e meio depois, ativistas femininas do Quênia promovem uma semana de descoito (nem mesmo o biscoito) em protesto às disputas políticas dentro do governo local. Há dois anos, nas eleições, morreram 1.500 pessoas, e 300 mil abandonaram suas casas. Por isso, o lado forte decide levantar o lençol. Greve de sexo. E dessa vez até mesmo a mulher do primeiro ministro e a do presidente devem aderir, se o caso for levado a sério.
Grandes decisões são tomadas durante conversas na cama, então, estamos pedindo a essas duas senhoras que neste momento de intimidade peçam aos maridos: Querido, você pode fazer alguma coisa pelo Quênia?, disse Patricia ao programa Focus on Africa, da BBC.
Por impedir a descarga do instinto mais animal do homem, que é o sexo, ameniza outro de seus fortes impulsos naturais, que é o poder absoluto sobre o inimigo. Afinal, se somos os seres pensantes, por que ser sempre animais? A diferença está no terno? Então,
do ser animal, que guardem a parte boa.

O elefante filhote se acostuma a ficar amarrado a um toco de árvore porque não tem forças para puxá-lo da terra. Quando cresce, a idéia fixa já está enraizada: se não pude, não posso. E então o paquiderme adulto se conforma em não enfrentar a corda que o prende ao pequeno toco de madeira. Preso a uma idéia antiga.

Não será o mesmo com as mulheres, hoje adultas, receosas do poder de um toco, uma clava? Onde está o feminismo inteligente a destruir o machismo, o preconceito, a guerra?

Amor, minha gente, amor.

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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Nós vamos invadir sua @praia

No Twitter somos todos descolados, inteligentes e blasés. Com a pérola de Marcos Donizetti* abro um texto que só nasceu por causa do olhar pungente desse cara, e que vai falar sobe a tal invasão popular nas mídias sociais como Orkut e Twitter.

Há alguns anos surgiu o Gmail e, uau, que uau, precisava de algum amigo que me convidasse para entrar nessa turma de escolhidos. Cresci o olho, pintei-me de legal para a turma de Criação e pimba! Fui chamado. Pílula azul. Estando lá dentro. Desde então, como em maçonaria ou Canto da Ema eu escolhia a dedo quem merecia o privilégio de meu convite virtual.

O mesmo aconteceu com Orkut, na época em que o japinha de mullets era o brother preferido da tela de abertura. Sempre fui muito pão-duro com aqueles 50 convites, mesmo não tendo 50 amigos (não conto Orkut como IBGE). Só eu acreditava que existia uma cúpula dos predestinados virtuais. Sempre fui assim com o sigiloso. Aliás, se quiser guardar um segredo, pode contar comigo.

Dúvidas sociais

No começo, entrava em tudo quanto é comunidade que me fizesse rir, até mesmo pela foto pura em si, mesmo que eu não tivesse nada a ver com a descrição. Aquela do Eu levo a sogra, por exemplo. Não acham isso banal? Eu não achava. As pessoas não achavam.

Mas quando tudo virou popular e até minha empregada – quer dizer, secretária do lar – criou seu perfil, estranhamente não senti invasão alguma, tampouco deixei de usar Gmail e Orkut. A reação prevista era dizer "Bah! Vai estragá." Mas continuei usando. Em compensação, comecei a dizer que Orkut começara a ser banalizado. O que fiz foi sair das 372 comunidades e publicar textos próprios no perfil. Sabe, pra bancar o artista hermético? Sempre tive aversão em anunciar
com predicados aquilo que eu penso que sou.

Mais banal era meu pensamento. Invasão do quê? Banalizou o quê? Aversão por quê?

Praia Grande da internet

Esse tema da sensação de invasão no Orkut, MSN, Twitter etc. foi o que levou Donizetti a escrever aquele texto em seu blog. Parece coisa de burguesa: a mãe de família compra já no lançamento um vestido xis, e seis meses depois sua amiga pobre aparece com um igual. "Comprei na liquidação." É o suficiente para a Dona Pavona se livrar da peça. Na mesma filosofia muita gente se mudou ao Facebook porque Orkut estava lotado.

Toda essa galera que conheceu as mídias sociais nunca tiveram computador, internet, voz nas mídias. A partir do momento que você tem chance de criar um espaço seu, que mostre quem você é, seus gostos, afinidades, que reúna pessoas que você gosta, que facilite contatos e divulgação de idéias (ainda que tal idéia seja uma dessas fotos que mereçam o pódio no Pérolas do Orkut) e que, melhor ainda, seja de graça, é natural que o site bombe. Mas onde está o problema, Dona Pavonline, se seu acesso não depende das comunidades nas quais a filha do seu porteiro entrou? Meus 50 convites VIP de nada valeram! Maçonaria sem vantagens! Não sou mais único...

Sexo banal

Não acho que o Orkut banalizou. O que é banal é a gente. Não o meio, sim o fim. Por exemplo, com as comunidades. Poucas são usadas para troca de idéias, reencontro de amigos e envolvimento com pessoas de igual interesse. A maioria tem conotação rotuladora, mascarante, fantasiosa. Afinal, qual a função real, prática, desenvolvedora, de adentrar-se em Morenas dominam, Faço merda quando bebo, Bato de trivela, A fila anda e Ela perguntam/eles respondem? Tem 967 mil pessoas, e aposto que devem ficar super atualizadas com essa troca de informações. Pior ainda: alguém já descobriu que aquele seu colega de trabalho é um dos orgulhosos membros da comunidade Eu adoro sexo? É constrangedor.

A função de tudo isso nada mais é que se mostrar. (Jura que você curte sexo? Que homem!) E então caímos no motivo de o Orkut ter sido invadido. A galera C e D nunca pôde mostrar o que é. Ainda que tal liberdade seja apenas uma masturbação de ego, a internet está para a expressão assim como a Imigrantes está para a praia.

O mesmo está acontecendo com o Twitter, suas mensagens curtas, rápidas e tão cheias de personalidade. Nos faz parecer bem antenados, cults, descolados, a agenda setting do que queremos parecer por hoje. Só que a galerona também descobriu esse meio e fez a invasão dos passarinhos. O suficiente para os antenados se revoltarem. Nunca mais descolados, nuca mais inteligentes, nunca mais blasés. Afinal, como ser blasé no Shopping Tatuapé?

RT, pf

Larguem mão dessa frescura e deixem o povo ser feliz. O uso que fazemos do Orkut é tão banal quanto essa suposta invasão, apesar de suas funções ótimas. Em breve o Lula criará um perfil no Twitter, e confio que não será a elite sua mais fiel seguidora.


Pra fechar nas palavras do mesmo Donizetti, as tais redes sociais de que todos falam só serão realmente verdadeiras quando forem invadidas pelo Povão. Só aí o social do nome fará algum sentido.
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  • Blog do Marcos Donizetti
  • Pérolas do Orkut é hilário
  • Agenda setting, o que é isso?
  • Eu levo a sogra, confira a foto
  • Claucio está nas comunidades Teatro, Poesia brasileira, Dostoievski, Hermann Hesse, Admirável Mundo Novo - Huxley, 1984 - A Era do Grande Irmão, Roteiros - Cinema e TV e Yoni por mera rotulagem; o que você tem a ver com os livros que admiro? — LavourArcaica, A Vida Dos Outros, O Mundo de Leland e Apocalypse Now por acreditar que os filmes que você leva pra sempre dizem bastante sobre sua sensibilidade; mas confesso, uma conversa de bar é mais eficaz. — Rock Progressivo, Jazz fusion e Curto Rock e Moda de Viola porque tenho ascendente Gêmeos e quis mostrar minha dualidade mostrando os gostos; mas duvido que alguém tenha entendido. — Índice Geral - Discografias porque lá encontro arquivos em MP3 pra baixar (a única de real utilidade). — Claucio: um nome injustiçado e Família Klarosk porque fui eu quem criou e não consigo mais sair. E Chaves é Cultura, porque só não te dou outra porque.
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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Era melhor ter visto o Pelé

Time que entra de salto alto ou que não honra as cuecas deveria devolver o dinheiro. E foi isso que aconteceu na Alemanha quando o Energie Cottbus perdeu para o Shalke 04 por goleada. Em nenhum momento esboçou vitalidade, e até a diretoria ficou envergonhada. O resultado é curioso: o clube decidiu devolver o valor dos ingressos a todos os torcedores.
"Desculpem, sabemos que fomos patéticos, então aqui está o dinheiro de volta, obrigado e voltem sempre."

Patéticos mas honestos, não?

Se pega no Brasil, ia ter clube, federação e dirigente falindo.
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  • Matéria no BBC Brasil aqui.
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Ação contra o governo

Da série Se a moda pega...

Em 2005 Katrina arrasou Nova Orleans. O que São Pedro gerou de prejuízo nunca esteve escrito. Mas deixa o velhinho, que ele não tem a ver com os assuntos da Terra.

Mas o governo tem. E as pessoas se tocaram que não basta apenas lamentar o dilúvio derramado ou cobrar as seguradoras. A causa pode estar no seu voto.

Alguns moradores da região atingida entraram com uma ação judicial contra o governo dos EUA por causa dos estragos do furacão. E aparentemente têm razão no processo:
Os seis proprietários afirmam que quando engenheiros militares do Exército construíram um novo canal para a passagem de navios em Nova Orleans, eles destruíram os pântanos locais, que funcionavam como barreira de proteção para as casas.

Esta é a primeira vez que um juiz nega imunidade e permite que as vítimas processem o governo americano por causa dos efeitos do furacão Katrina. [...] Um caso histórico que pode abrir o precedente para que dezenas de milhares de pessoas processem o governo por danos.
Interessante! Já pensou se a moda pega?
  • as famílias viúvas do 11 de Setembro processariam a Casa Branca por manter relações perigosas?
  • nós, bravileiros, botaríamos o Exército no banco dos réus por ter escrito leis, na época da Ditadura, que oneram a confusa (in)justiça a qual ainda estamos submetidos?
  • famílias ditas pagãs se levantariam contra o Vaticano, pelas atrocidades cometidas em séculos de história?
  • negros contra europeus, pela escravidão?
  • ou "Ai, que preguiça"?

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Por acaso assisti ontem ao documentário Uma Verdade Inconveniente, com Al Gore. Mesmo com alguns apelos ad populum totalmente dispensáveis, faz um belo alarde.

Com o tema do aquecimento global fervendo na mídia, discute-se a fabricação de carros elétricos. Mas você sabia que eles já existiam em 1830? Cinquenta anos depois, 90% dos táxis de NY eram movidos a bateria. Mas, aos poucos, sumiram das ruas. Sabe por quais motivos?
  • Carro silencioso era (era?) considerado coisa de mulher. O que pegava mesmo é mostrar potência, vrum másculo, vrum viril, barulho que somente um motor a gasolina poderia produzir.
  • Os magnatas do petróleo boicotaram a fabricação dos elétricos, impulsionando o consumo do assim chamado ouro negro.
Tamos aí, escandalizados com a própria natureza. Quem eu processo?
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Previdente Lula is now following you on Twitter

Estava buscando uma desculpa convincente para dedetizar meu Blog 2 dos emaranhados que acumularam graças a meu desleixo, e esta notícia veio a calhar. Retorno, pois, graças à entrada do previdente na internet. A la Obama, que disse que Lula é o cara!

Deu n'O Estado de S. Paulo (18/04/2009) um artigo cuja manchete é Lula imita estratégia de Obama e busca espaço no mundo virtual. Encontrei no site do Ministério da Cultura¹. Agora o Luís Inácio terá um blog, um canal no Youtube, Twitter e algo mais.

Quero comentar os trechos interessantes:
O projeto faz parte de um conjunto de iniciativas, algumas já postas em prática, que visam a melhorar a comunicação do governo — entre elas, o aumento no número de entrevistas de Lula e a criação de um núcleo voltado para a imprensa regional.

Resta saber se será unilateral, gambiarra e falsa política, ou se haverá de fato uma voz para interagir com os cidadonlaines. Afinal, essa é a premissa da internet. Eu vivo conectado e sei que se tudo isso engrenar vai contribuir para minha cidadania e apego político, e por isso torço pela 2ª opção.
Os números obtidos pelo Ministério da Cultura, que criou um blog² para discutir as alterações na Lei Rouanet, têm servido de exemplo: em seis meses, foram 70 mil visitantes.

Tenho acompanhado o tema e em breve escrevo sobre isso. Para quem quiser acompanhar o tal blog, confira o rodapé.
Técnicos da Presidência já conversaram com profissionais do Google para saber como seria um eventual uso do YouTube. A ideia é que o blog tenha vídeos também.

Acho interessante a estratégia porque a classe mais baixa, antes refém da grandes emissoras públicas de televisão e de jornalecos como fonte de informação, está cada vez mais ligada ao mundo virtual. Ter um portal de notícias de comunicação com o governo já é um primeiro de muitos passos para estabelecer contato entre eleitos e eleitores, sem burocracia. Quem sabe na próxima eleição a gente não acaba com aquele infame boicote de 2008 às campanhas online e, assim sendo, abrir espaço para discussões de partidos menores e que graças a um sistema esquisito de cotas nunca têm voz suficiente?
O diagnóstico do Planalto é que os portais da Presidência e dos ministérios, hoje, “não conversam entre si” nem orientam o cidadão para os serviços do Estado.

Orientação é bem-vinda. Ouvir os orientados também será.

Mas é uma notícia boa pra começar a semana, porque incita discussões de propostas. Qual seria sua sugestão para dar sucesso e continuidade ao projeto? Como ligar iniciativas como o Transparência Brasil³ a vozes representativas tanto de esquerda quanto direita, e escancarar grandes fantasmas — como corrupção, inadimplência parlamentar, legislação obsoleta, judiciário confuso, sequelas da ditadura — a uma discussão mais democrática via internet?

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  1. Site do Ministério da Cultura onde encontrei o artigo
  2. Blog sobre as mudanças da Lei Rouanet
  3. Site da ONG Transparência Brasil
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