quinta-feira, 23 de abril de 2009

Nós vamos invadir sua @praia

No Twitter somos todos descolados, inteligentes e blasés. Com a pérola de Marcos Donizetti* abro um texto que só nasceu por causa do olhar pungente desse cara, e que vai falar sobe a tal invasão popular nas mídias sociais como Orkut e Twitter.

Há alguns anos surgiu o Gmail e, uau, que uau, precisava de algum amigo que me convidasse para entrar nessa turma de escolhidos. Cresci o olho, pintei-me de legal para a turma de Criação e pimba! Fui chamado. Pílula azul. Estando lá dentro. Desde então, como em maçonaria ou Canto da Ema eu escolhia a dedo quem merecia o privilégio de meu convite virtual.

O mesmo aconteceu com Orkut, na época em que o japinha de mullets era o brother preferido da tela de abertura. Sempre fui muito pão-duro com aqueles 50 convites, mesmo não tendo 50 amigos (não conto Orkut como IBGE). Só eu acreditava que existia uma cúpula dos predestinados virtuais. Sempre fui assim com o sigiloso. Aliás, se quiser guardar um segredo, pode contar comigo.

Dúvidas sociais

No começo, entrava em tudo quanto é comunidade que me fizesse rir, até mesmo pela foto pura em si, mesmo que eu não tivesse nada a ver com a descrição. Aquela do Eu levo a sogra, por exemplo. Não acham isso banal? Eu não achava. As pessoas não achavam.

Mas quando tudo virou popular e até minha empregada – quer dizer, secretária do lar – criou seu perfil, estranhamente não senti invasão alguma, tampouco deixei de usar Gmail e Orkut. A reação prevista era dizer "Bah! Vai estragá." Mas continuei usando. Em compensação, comecei a dizer que Orkut começara a ser banalizado. O que fiz foi sair das 372 comunidades e publicar textos próprios no perfil. Sabe, pra bancar o artista hermético? Sempre tive aversão em anunciar
com predicados aquilo que eu penso que sou.

Mais banal era meu pensamento. Invasão do quê? Banalizou o quê? Aversão por quê?

Praia Grande da internet

Esse tema da sensação de invasão no Orkut, MSN, Twitter etc. foi o que levou Donizetti a escrever aquele texto em seu blog. Parece coisa de burguesa: a mãe de família compra já no lançamento um vestido xis, e seis meses depois sua amiga pobre aparece com um igual. "Comprei na liquidação." É o suficiente para a Dona Pavona se livrar da peça. Na mesma filosofia muita gente se mudou ao Facebook porque Orkut estava lotado.

Toda essa galera que conheceu as mídias sociais nunca tiveram computador, internet, voz nas mídias. A partir do momento que você tem chance de criar um espaço seu, que mostre quem você é, seus gostos, afinidades, que reúna pessoas que você gosta, que facilite contatos e divulgação de idéias (ainda que tal idéia seja uma dessas fotos que mereçam o pódio no Pérolas do Orkut) e que, melhor ainda, seja de graça, é natural que o site bombe. Mas onde está o problema, Dona Pavonline, se seu acesso não depende das comunidades nas quais a filha do seu porteiro entrou? Meus 50 convites VIP de nada valeram! Maçonaria sem vantagens! Não sou mais único...

Sexo banal

Não acho que o Orkut banalizou. O que é banal é a gente. Não o meio, sim o fim. Por exemplo, com as comunidades. Poucas são usadas para troca de idéias, reencontro de amigos e envolvimento com pessoas de igual interesse. A maioria tem conotação rotuladora, mascarante, fantasiosa. Afinal, qual a função real, prática, desenvolvedora, de adentrar-se em Morenas dominam, Faço merda quando bebo, Bato de trivela, A fila anda e Ela perguntam/eles respondem? Tem 967 mil pessoas, e aposto que devem ficar super atualizadas com essa troca de informações. Pior ainda: alguém já descobriu que aquele seu colega de trabalho é um dos orgulhosos membros da comunidade Eu adoro sexo? É constrangedor.

A função de tudo isso nada mais é que se mostrar. (Jura que você curte sexo? Que homem!) E então caímos no motivo de o Orkut ter sido invadido. A galera C e D nunca pôde mostrar o que é. Ainda que tal liberdade seja apenas uma masturbação de ego, a internet está para a expressão assim como a Imigrantes está para a praia.

O mesmo está acontecendo com o Twitter, suas mensagens curtas, rápidas e tão cheias de personalidade. Nos faz parecer bem antenados, cults, descolados, a agenda setting do que queremos parecer por hoje. Só que a galerona também descobriu esse meio e fez a invasão dos passarinhos. O suficiente para os antenados se revoltarem. Nunca mais descolados, nuca mais inteligentes, nunca mais blasés. Afinal, como ser blasé no Shopping Tatuapé?

RT, pf

Larguem mão dessa frescura e deixem o povo ser feliz. O uso que fazemos do Orkut é tão banal quanto essa suposta invasão, apesar de suas funções ótimas. Em breve o Lula criará um perfil no Twitter, e confio que não será a elite sua mais fiel seguidora.


Pra fechar nas palavras do mesmo Donizetti, as tais redes sociais de que todos falam só serão realmente verdadeiras quando forem invadidas pelo Povão. Só aí o social do nome fará algum sentido.
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  • Blog do Marcos Donizetti
  • Pérolas do Orkut é hilário
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Um comentário:

Kk disse...

nem o forro é mais secreto =(