terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

O café e o alerta.

Curioso: as mudanças climáticas e suas conseqüências. Li aqui o artigo Crise climática pega Brasil desprevinido. Vejamos:

No caso do café, o 34 é um número mágico. Na época do florescimento, não podem ocorrer mais do que cinco dias com temperaturas superiores aos 34ºC. Se isso ocorre, a produção é perdida. As flores e os frutos não são produzidos.
E isso porque o artigo-alerta foi baseado na cidade de São José do Rio Preto, que, segundo dois amigos, dá pra fritar ovo no asfalto.

Desculpem-me a divagação, mas pensemos nas conseqüências além da economia, e sim no comportamento.


Com falta de grãos,
  1. o cafezinho ficará mais caro — oferta menor que procura;
  2. as pessoas tomarão menos café — "mão invisível" do mercado;
  3. logo, sentirão mais cedo o tédio e sonolência durante o trabalho ou o estudo;
  4. as empresas perderão produtividade, as provas perderão em médias e os vestibulares aprovarão menos;
  5. o que vai gerar um ciclo de manutenção de cargos mais frequente, ou o nivelamento por baixo das faculdades;
  6. e então a venda de guaraná ou refrigerantes de cola aumentará;
  7. as pessoas engordarão mais facilmente;
  8. remédios para emagrecer serão ainda mais procurados e vendidos sem receita;
  9. a sociedade se afundará num ciclo vicioso (e viciado) doentio, que nos levará ao conflito entre os dois pólos auto-destrutíveis na sociedade do tudo-ao-mesmo-tempo-agora: a) articífios nocivos para manter produtividade no trabalho-estudo-casa, versus b) investimentos para manter a saúde e imagem de bom sucesso. Ou seja, apenas vai se agravar o quadro que temos hoje, de pessoas equilibrando pospecializações autômatas, ascensão na escada da carreira, posses consumí(á)veis, atletismo sexual e, por fim, o corpo esculpido. Isto é, se a intenção da mídia não for desafiar a gravidade (de Newton ou da situação) e manter todos os pratos da balança no alto.

Existe equilíbrio? A resposta é sim, mas quem depende de seu consumo ou voto não quer que você saiba, entendeu? ;)

A divagação parece besteira, mas faz lembrar da dolorosa leitura de Os Sertões, do Euclides da Cunha, cuja mensagem foi pra mim a seguinte. As razões de comportamento individual e social são conseqüências tanto de decisões quanto de condições ambientais, sendo que as decisões também sofreram influências de matrizes ambientais anteriores em sua história, o que não anula o poder de escolha e contradição interna, mas que reforça a idéia de que tudo se influencia, desde palavras até geografia, e isso torna a vida mais interessante, se for pensada e captada em suas nuances — pelo menos para quem aceitaria uma discussão numa roda de cervejinha no bar ou na praia, seja onde for. Destino? O destino acontece a cada instante. Mas o que sou agora é uma de quinquilhonesimões de outras possibilidades que poderia ter sido. Como diz James a Monty em A Última Noite:
This life was so close to never happening.
Tá vendo? Só de você pensar nisso vai influenciar algum gesto seu em algum momento de sua vida, que impressionará outros, que mudarão seus trajetos, conhecerão pessoas, se livrarão de outras, e assim por diante. Mas, por favor, não mesmiceie sua vida diante das influências televisivas.


Até breve,
Claucio.

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