segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Brasil, país ditador.

Você tem que parecer feliz.
Você deve parecer ser feliz.
Você precisa ser feliz.
Você é feliz!

Capas.
Moda.
Propaganda.
Puts-puts.

Putz.

E dessa lavagem, onde cabe o que fica triste? Onde fica o que, na simples tristeza, doce e melancólica e fértil, é rotulado de doente?
De marginal?
De crimidéia?

Li aqui; lembrei-me do estereótipo dos não estereotipadores: "Não namoraremos. Mas sim, todo o resto que se faz debaixo desse toldo."

— Namorarás.
— Dirás que namora.
— Esconderás tristezas.
— Casarás com o primeiro conto de fadas.

"Não me bajule. Estou farta da ditadura da felicidade."

E ele se apaixonou.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

O medo de dizer 'não'.

__Você teria coragem de dizer não ao maior chefe?
__— Talvez sim.
__De dizer não a uma obrigação?
__— Possivelmente.
__De colocar a ideologia à frente das ordens de cima, com um não?
__— Quem? Biologia?
__Olha esse cara: disse não ao Bush e manteve suas tropas, em vez de ir ao Iraque.
__"Nunca poderia conceber que nosso líder trairia a confiança que depositamos nele. À medida que lia sobre o nível de engano utilizado pela administração para iniciar e processar esta guerra, ficava alarmado. Comecei a sentir vergonha de usar meu uniforme. Se o presidente pode trair minha confiança é hora de eu avaliar o que ele me diz para fazer."
__Eu tenho muitos conhecidos que não fariam isso. Na verdade, nem eu sei se faria. São culhões, são crenças. A gente vê o que se faz com nosso voto e o que fazemos é participar de enquetes na internet. A gente vê como o colega é tratado, do que a empresa faz, de como o produto é ruim, e mesmo assim nós, os comunicadores, fazemos assessoria, incentivamos o consumo, monetizamos pessoas.
__Puxa, Quixote, saudades de tuas façanhas. Enquanto o general Krutz (ou Kurtz) continua me explicando sobre como eu tendo a ser, este sarcasmo profético.

Ladrões ensinam sobre segurança.

__Muito boa, não acham? "Ladrões ensinam sobre como proteger casas." De acordo, são especialistas em burlar, claro. Como os hackers contratados por empresas de vírus.
__Imagine, o ensino especializado, ou sei lá o que criticar — a TV? o capitalismo? é tudo a mesma matriz? — chegar a esse ponto.
__Mas, confesso que se tivéssemos um programa "aprenda a trabalhar", ou aprenda a votar, ou aprenda a representar, ou aprenda a honrar, apresentado pelos políticos brasileiros, esse eu assistiria!

A moda não mata, mas tá quase lá.

__Quem nunca ouviu de alguma namorada, ou caso do sexo feminino, em tom de exigência e iguais direitos, quase feminista anárquica, dizer após comentar sobre dores de depilação, a seguinte pergunta?
__— Tá vendo o que a gente sofre por vocês?
__Mas, se não me engano, não é para os eles que elas tanto se ferem. (Não fui eu quem fez a pesquisa, não perguntem). E mesmo com a cansativa mídia-módia que exalta Giseles de propaganda, e revistas tipo Nova e Cláudia que envergonham as mulheres "normais" frente ao abdômem esculpido de quem vive disso e se condena por, e também com a crescente onda de matérias que mostram o quão falseadas são as bundas de Playboy, bem, ainda assim a moda vigora.
__E se forem à Itália perguntar se eles abdicariam da saúde pela moda, rá! Nas entrelinhas dos discursos pseudo-geração-saúde você verá passados e presentes, e quem sabe futuros nos saldos de cartão dos próximos oito meses os tais saltos de agulha, vestidos que prendem respiração, golas incômodas, blusas quentes. Ah, duvida? Na Itália, pelo menos é assim: 80% das italianas se sentem doentes por causa da moda.
__No Brasil, não?
__Claro que as mulheres ficam lindas, com porte de verdadeiras Mulher-Maravilha. Mas todo mundo usando aquele terninho em empresas, se equilibrando em saltos finos... Não é à toa que elas se dão melhor em dinâmicas de grupo.
__Depilações e peles lisinhas? Ufa, ainda bem que há quem faça esse sacrifício. Fica bem mais bonito. Mas sei que não é pra mim nem pra homens. Elas já superaram isso, pelo menos na metrópole: elas se vestem para o espelho, depois amigas, pelas capas, e depois para nós. Mas tudo bem, agrada mesmo assim.
__Às vezes provoca risos: no ano novo vi uma dondoca de salto alto. Na praia.
__Enfim, só levanto a questão dos casos extremos. Como este, que chega a beirar a bizarrice. Com o choque inverso que uma Hilda Hilst causaria há décadas atrás.

__PS: Eu tenho pavor de usar terno. Pelo calor que sinto de regatas, não pela queda de algumas garotas.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Atenção futuro, seu avô sumiu!

Uns meses atrás eu perguntei: se o Lula é democrático, a informação sobre nosso passado deveria deixar de ser obscura. Na ocasião, ele tinha dito alguma coisa de que os documentos históricos Confidencial da ditadura seriam vetados ao conhecimento do público de fora, ou seja, os não brothers. Que fez lembrar da manipulação da "verdade" que os governantes faziam para subjugar os cidadãos de 1984 a seu bel prazer. Coisa não muito rara de se encontrar nas bancas e telinhas, já que, sob o bem querer de que "meus consumidores não têm tempo de saber de tudo, então imponho-lhes meu desinteressado ponto de vista", editoras informam apenas o que se convém. Puro George Orwell.

Agora essa: os arquivos sumiram!

O arquivo do extinto Serviço Nacional de Informações (1964-90), sob guarda da União, sofreu uma "limpeza" na qual foram suprimidos documentos que deveriam constar de acervos federais.


A descoberta do sumiço comprova, de maneira inédita, relatos de antigos funcionários da chamada "comunidade de informações" do regime militar (1964-85).


O arquivo do SNI, agora sob guarda do Arquivo Nacional, é esperança de cerca de 140 famílias para encontrar os corpos de desaparecidos políticos. Pesquisadores esperam obter nele novos dados para contar a história do regime militar.


Minha professora de História dizia: "Estudar o passado é para para entender o presente e planejar o futuro." Do ponto de vista do professor de Aritmética, "o presente é o último dos pontos de uma curva que se inicia no passado, e tal curva tem uma tendência a ser prosseguida ao futuro."

Mas, professora, e se a gente não souber do passado? O de História não sabe como responder, mas o pragmático responde: "sem futuro".

O que fazer quando as versões são contadas por quem é letrado, o que exclui o ponto de vista do oprimido? A de História se embaralha, mas o pragmático diz: "então a curva construída a partir do presente-vocês segue uma porcentagem de erro."

Sei que as perguntas não são nada originais. Só que me dá raiva viver o que eu já li em metáfora. Acho que vou ler alguma auto-ajuda, ou desses romances de encomenda, e dizer no futuro aos meus netos: eu lia Luft.

O café e o alerta.

Curioso: as mudanças climáticas e suas conseqüências. Li aqui o artigo Crise climática pega Brasil desprevinido. Vejamos:

No caso do café, o 34 é um número mágico. Na época do florescimento, não podem ocorrer mais do que cinco dias com temperaturas superiores aos 34ºC. Se isso ocorre, a produção é perdida. As flores e os frutos não são produzidos.
E isso porque o artigo-alerta foi baseado na cidade de São José do Rio Preto, que, segundo dois amigos, dá pra fritar ovo no asfalto.

Desculpem-me a divagação, mas pensemos nas conseqüências além da economia, e sim no comportamento.


Com falta de grãos,
  1. o cafezinho ficará mais caro — oferta menor que procura;
  2. as pessoas tomarão menos café — "mão invisível" do mercado;
  3. logo, sentirão mais cedo o tédio e sonolência durante o trabalho ou o estudo;
  4. as empresas perderão produtividade, as provas perderão em médias e os vestibulares aprovarão menos;
  5. o que vai gerar um ciclo de manutenção de cargos mais frequente, ou o nivelamento por baixo das faculdades;
  6. e então a venda de guaraná ou refrigerantes de cola aumentará;
  7. as pessoas engordarão mais facilmente;
  8. remédios para emagrecer serão ainda mais procurados e vendidos sem receita;
  9. a sociedade se afundará num ciclo vicioso (e viciado) doentio, que nos levará ao conflito entre os dois pólos auto-destrutíveis na sociedade do tudo-ao-mesmo-tempo-agora: a) articífios nocivos para manter produtividade no trabalho-estudo-casa, versus b) investimentos para manter a saúde e imagem de bom sucesso. Ou seja, apenas vai se agravar o quadro que temos hoje, de pessoas equilibrando pospecializações autômatas, ascensão na escada da carreira, posses consumí(á)veis, atletismo sexual e, por fim, o corpo esculpido. Isto é, se a intenção da mídia não for desafiar a gravidade (de Newton ou da situação) e manter todos os pratos da balança no alto.

Existe equilíbrio? A resposta é sim, mas quem depende de seu consumo ou voto não quer que você saiba, entendeu? ;)

A divagação parece besteira, mas faz lembrar da dolorosa leitura de Os Sertões, do Euclides da Cunha, cuja mensagem foi pra mim a seguinte. As razões de comportamento individual e social são conseqüências tanto de decisões quanto de condições ambientais, sendo que as decisões também sofreram influências de matrizes ambientais anteriores em sua história, o que não anula o poder de escolha e contradição interna, mas que reforça a idéia de que tudo se influencia, desde palavras até geografia, e isso torna a vida mais interessante, se for pensada e captada em suas nuances — pelo menos para quem aceitaria uma discussão numa roda de cervejinha no bar ou na praia, seja onde for. Destino? O destino acontece a cada instante. Mas o que sou agora é uma de quinquilhonesimões de outras possibilidades que poderia ter sido. Como diz James a Monty em A Última Noite:
This life was so close to never happening.
Tá vendo? Só de você pensar nisso vai influenciar algum gesto seu em algum momento de sua vida, que impressionará outros, que mudarão seus trajetos, conhecerão pessoas, se livrarão de outras, e assim por diante. Mas, por favor, não mesmiceie sua vida diante das influências televisivas.


Até breve,
Claucio.