domingo, 13 de janeiro de 2008

Ensaio sobre a surdez

__A luz já me se ausentou duas vezes em Saramago.

__Em Ensaio sobre a cegueira o raio da visão foi privilégio apenas de uma dama. Caos em terra de.

__Em As intermitências da morte a mais temida entidade tirou férias — não havia mais aquela luz, quando se morre, porque não se morria, nem se mortematava! Velhos centenários recusavam a falência da vida, cemitérios deixaram de lucrar e a Previdência, o INSS pagaram o ganso.

__O José deveria passar umas férias no Brasil para perceber um outro sentido que vem sendo perguntado. E perdido. Porque estamos carentes da audição empresarial, especialmente em casos de tragédia.

__BRA, TAM, Gol. Personagens de um Ensaio sobre a surdez.

__Passageiros, familiares em luto ou o jornalismo dentada ficaram no vácuo. Que horas sairá o meu vôo? Como ficam minhas passagens? Quem estava no avião que caiu? Por que o metrô desabou?

__Por que esse silêncio?

__"Estou apenas a trabalho."

__O mudo sai de si e torna-se porta-voz de um presidente desenvergonhado. E em nome dum punhado de reais, veste o erro.

__"Pagando bem, que mal tem?"

__O descaso perante os consumidores ou vítimas mostra o quão criminosa é a raiz capitalista na ética dum ser humo.

__Visão, tato, audição, paladar, olfato e sexto. A vida, na mão de um acionista, perde o sentido.

__"Estou a trabalho apenas."

__O decibel da pressão que comodita-comoditiza o trabalhador já mostrou o resultado: perante choros e filhos perdidos, a intolerância quase apaziguadora do balconista.

__Que a vida desses ar-altos também passem apenas a trabalho.

__A penas.
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