sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O hotel de um milhão de pixels.

Um garoto foi preso, na Holanda, por roubar em um hotel virtual. Second Life é o nome do bairro, e o criminoso, junto a uma quadrilha de outros de iguais 15 anos, foi interrogado pela polícia. Ladrões de senha, é o que são. Os objetos virtuais roubados foram comprados por pessoas reais, com dinheiro real. Com objetivos... reais.

__Tom Tom jogava dados e roubava os resultados. Ninguém via nem denunciava. Quando suas espinhas começaram a pipocar, costumava dedicar suas horas vagas mergulhando nas batalhas contra trolls, goblins, magos, feiticeiros, filhos de Tolkien, seres do mar e até mesmo gananciosos adolescentes de 15 anos, um pouco mais medievais. Enquanto lá fora havia Plano Real, shopping caindo, meninas se apalpabilizando, ele, quietinho, sem beijos nem pêlos, se fechava, e se abria, em livros de RPG da série Aventuras Fantásticas.

__Puxa, bacana, joguinho, diversão, conhecer gente que pensa igual a você, campanhas publicitárias na internet, realidade paralela. É a fantasia em pixels. Mas o quanto é preciso não se viver, na primeira vida, para realmente viver alguma vida na Second? Quando eu já perdi de encontros sinestésicos em nome de uma micareta virtual?

__O que está lendo, meu filho? Não estou lendo, estou jogando! Mas, sentado? — Eram horas e horas em viagens, com todos os sentidos possíveis de viagem. Não sei se me arrependo de ter lido tanto RPG na época. Não sei. Nunca tinha me arrependido, mas, esses dias, ao espelhar meus jogos nos atuais games, uma nostalgia do tempo passado me fez também comparar meus até hoje guardados livros verdes de Ian Livingstone e Steve Jackson com a arte escorrida páginas adentro.

__Eu me sinto... tolo. A minha bunda pede por favor que eu levante e vá jogar bola. Mas e meu cachorro Rexxx, do The Sims? E meu exército romano esperando meu clique de ataque? Meu bate-papo no Hot Chat? Como eu viverei, se toda hora tiver que alongar minhas pernas? Malditos tendões chorõres. No Second Life eu não vou ao banheiro.

__Eu lembro... os primeiros RPGs, vulgos Role Playing Game (Jogo de Interpretação de Personagem), me colocavam no papel de um guerreiro com certo objetivo, certa habilidade, num mundo ao estilo Senhor dos Anéis. Para jogá-los, bastava escolher o que fazer entre as opções oferecidas no texto, e definir o seu destino na história: Vai tomar um conhaque no bar? Vá para a página 52. Vai encarar o brutamontes? Avance para 312. Prefere recuperar as energias? Fuja para 114. E conforme você encontrava inimigos ou desafios, era necessário lançar os dados para saber se os deuses estavam a seu favor. Perder era raiva garantida! Perder a página de origem, pior ainda.

__Bem mais fácil que a vida. Sem rosto vermelho, sem gaguejo, sem psicológico. Quer dizer, quase. Hoje tem curso online. Vá para E-cursos. Vou aproveitar e chamar a lullystar_22 para tomar um mini-game de montar sorvete. Dá pra rir bastante. Vou gastar as vinte pratas que ganhei com meu investimento em discotecagem, lol! Sempre quis ser DJ e aqui não tem papai me nenengenharizando. Agora dá pra mobiliar minha casa com aquele quadro do Van Gogh que o @@Blakey@@ pixelizou. Droga de interação, placa de vídeo mesozóica! Estou e pau duro, que cantada que a minha garota me enviou! Tem webcam?

__Fantasma do Medo conta sobre um jovem nobre elfo que precisava impedir os planos de dois demônios, um real e um virtual que vive no mundo dos sonhos; juntos, eles ameaçam a raça dos elfos. Peitudinha, há doze anos fez pouco caso de minha sinopse. Dane-se: aqui você tem poder de controlar a realidade por meio de sonhos, e portanto a história segue dois caminhos, que inicialmente são paralelos, mas que no final acabam se cruzando e se influenciando. Uma derrota nos sonhos trazia a morte na vida. Uma vitória na vida trazia força nos sonhos.

__Um roubo de senha: Parado! Polícia! Em que Febem ponto com vão ser enjaulados? Dai a César o que é de César, e dai liberdade a quem sabe usar a liberdade. Você é culpado e sua pena é acesso à internet com conexão discada. Sem mais! Seu IP será rastreado e às 18h deverá estar desconectado, e seu nome sujo em todos os servidores de software livre. Ladrão! Ladrão! Seu ladrãozinho! Ladrão!

__Eu lembro... Quando me chamaram para a sala 16 do UOL, eu respondi carrancudo: que graça tem nternet? Hoje eu sou o mestre e tenho um Dungeon para aprisionar meus jogadores! — Eu lembro... enquanto eu jogava dados, rabiscava cadernos, me isolava em minha nerdice e posava como devorador de livros, a Internet nascia promissora.
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Um comentário:

Fernando Branquinho disse...

muito bom post

falando a verdade, parabens!