segunda-feira, 2 de julho de 2007

A pedra do sapato

A Pedra do Reino, no teatro, não pude conferir. A Pedra do Reino, nas páginas, é um de meus desafios de leitura. E a versão televisiva eu não teleespectei, porque no meu quarto não tem TV. Aguardarei¹ o DVD.

E enquanto imaginava como seria, apenas conferi críticas sobre o fracasso da microssérie global. Falavam que não tinha tido audiência às onze da noite porque não era linear. E porque o brasileiro não está acostumado com linguagems ousadas, não-lineares, que façam pensar. Ou que o público esperou do rótulo "do mesmo autor de o Auto da Compadecida" algo que seja inteligente, mas menos refeição e mais fast food.

Isso me leva a pensar no que é a mídia, a arte a cultura. Existe a tal lobotomia cerebral que os grandes veículos impõem ao público? O povo é burro e não entende mestres como Suassuna? O povo representado por tais escritores merece ser representado nessas obras de baixa ininteligibilidade? Foi o diretor que não soube traduzir para uma linguagem televisiva mais "chá com bolachas" que supõe ser o horário pré-ronco? O povo sabe ter arte? "Tudo é cultura" nivelou por baixo os maiores incitadores de pensamento? Ou o fato foi muito alardeado?

Pra mim, a resposta é aquela dualidade do tostines-que-é-fresquinho-que-é-tostines. Não há resposta pontofinálica.

A dúvida me distrai. Eu estou entrando aos poucos no ramo artístico. Pretendo começar a terminar meu primeiro livro a partir de agosto, que será de uma folga pré-término da montagem da peça da minha turma de teatro². Nele e em outros rascunhos, tenho idéias que penso serem legais. Tento sair da associação glamuroso, a da "arte vendável". Da arte sustentável. Meu pai que gastou um carro no pagamento da faculdade, o pai psicológico que me persegue; o rendimento. De berço burguês, também penso se eu estou disposto a me arriscar ao "fracasso de audiência" que o nível cultural brasileiro, e político, fracasso que é sombra da grande luz ofuscante que é a verdade platônica da arte por ofício.

Mas acho que não posso ter essa dúvida por mais um ano.
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¹ Escrever o verbo "aguardar" no futuro parece erro lógico ou redundância. Quem aguarda, já aguarda por uma ocasião futura. Aguardarei já é aguardo. Papo de letra aguardente. Né?

² Ossos do Barão ficará em cartaz apenas dia 21 e 22 de julho, no Teatro do Ator. Escreva-me um e-mail para mais informações.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Claro que a história do Tostines tem resposta pontofinálica! Aliás, eu sempre achei um absurdo ninguém responder. Pelo menos na minha opiniäo.

A resposta correta é que Tostines vende mais porque é fresquinho. Ele näo pode ser fresquinho porque vende mais, porque vender mais significaria que o produto é bem aceito pelo mercado e, por isso, näo pode ser razáo para que o fizessem fresquinho (já que se näo era antes, näo mudariam a receita já que já vende muito. e se já era, pois é óbvio de que é o motivo pelo qual vende mais, e aí voltamos à primeira argumentaçäo).

Mas sei lá. Nos últimos dias as pessoas näo têm aceitado muito bem as minhas opiniöes. Rs