terça-feira, 2 de outubro de 2007

3 manobras globais contra a democracia

Saiu no blog da NovE referência sobre o livro do professor Venício de Lima, “Mídia, crise política e poder no Brasil”, que levanta algumas informações interessantes sobre a manipulação que a Rede Globo fez daquilo que não lhe interessava política e economicamente.

Para resumir, destaquei:


Fraude contra Brizola

Já existia, na eleições para governador do Rio, em 1982, um candidato global ao gosto dos seus mandatários. "Foi montado um esquema para fraudar a contagem dos votos através da empresa Proconsult, cujo programador era um oficial da reversa do Exército. Nesta trama macabra, a TV Globo ficou com o encargo de manipular a divulgação da apuração. Mas, já prevendo a fraude, foi montado um esquema paralelo de apuração, organizado por uma empresa rival, o Jornal do Brasil."


Um veículo democrático...


Sabotagem das Diretas-Já

Essa é clássica. "[...]milhões de pessoas começaram a sair às ruas para exigir o democrático direito de votar, na campanha que ficou conhecida como das Diretas-Já. A TV Globo, totalmente ligada à ditadura, simplesmente ignorou as gigantescas manifestações."


Um retrato do brasileiro...


Ministério global

"[...] curioso episódio da nomeação do ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, em 1988, o que confirma o poder da Rede Globo para indicar e derrubar autoridades do governo e para interferir, de maneira indevida e inconstitucional, nos rumos do Brasil." "Era comum o dono da TV Globo ser consultado sobre a escolha de ministros."



E logo após o Jornal, cinco segundos para a próxima movimentação do conteúdo fofoquês — para distrair a atenção de quem se entrega de controle remoto e alma.

Se algum dia político se meter a incentivar a leitura, Globeleza o capará.
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Dia do sexo gelado

A China está de cabelos em pé por causa da natalidade não baixa o suficiente para seus altos níveis demográficos.

Já na Rússia, o que está de pé não são os cabelos. Em um de seus estados, a necessidade de contingente beira o carnavalesco: por faltar neném nascendo, foi criada uma data para levantar o número de certidões e outras coisinhas mais: o Dia do Sexo.

Ôba ôba e fúqui fúqui!

E desde quando tem dia pra fazer sexo? No máximo, segundo o lado feminino, tem o dia pra não fazê-lo. Mas a "safadeza" é o seguinte: os adultos podem tirar folga do trabalho no dia 12 de setembro para guardar fôlego para algumas sapecadas caseiras. Bebês nascidos exatamente 9 meses após a data come-comemorativa, ou seja, no dia 12 de junho, dos namorados aqui e da Rússia lá, darão aos pais o direito de ter muitos benefícios: um carro 4x4 como prêmio, e mais: sendo o segundo ou terceiro filho, podem ganhar até US$ 9 mil (mais de R$ 17 mil) em auxílios para educação ou compra da casa própria.

Isso sim é afrodisíaco!

Em breve, o pacote econômico-social do governador de Ulyanovsk incluirá baixa de preços em terrenos para construção de motéis; aumento nos impostos de cirurgias para esterilização; taxação em camisinhas; e descontos em sex-shops.

Mas caso os casais de lá sejam frios, poderiam importar chineses.

Marta Suplicy pra governadora!

De
Ulyanovsk, claro.
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sexta-feira, 28 de setembro de 2007

De novo a Amazônia internacionalizada

Absurdo! Estudante reacionário, anti-capetalismo, bofes ao governo e cursinho patrocinado, ao receber o e-mail do tal livro de Geografia que dizia aos estudantes estadunidenses que a Amazônia é território internacional, encaminhou para todos os seus amigos; e se enfureceu por exatos quinze minutos hoje, mais vinte amanhã.

Auê gratuito na virada do milênio (às vezes este fantasma da internet revive), tal farsa esboça tornar-se realidade. Um aviso ao estudante, para que o absurdo caia por Serras abaixo:


Madêeeeeera!

O jornal observa que o argumento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é de que “se isolar a maior floresta do planeta do contato humano é uma utopia, pelo menos que aqueles que a exploram o façam de forma sustentável”.

Sustentável, no termo vamo-aproveitar-a-onda-de-bonzinhos, significa explorar o limite, o máximo que puder sem contudo parecer (perecer?) incorreto, pois, afinal, deve-se ajudar a sociedade! Seja lá no que for, e ainda que tal ajuda possa ser incentivada tão somente por abatimento de impostos.

E dá-lhe campanha institucional e relações públicas.

Interesses nessa jogada todos têm. É inegável que a Amazônia é uma mina de ouro para as escusas farmacêuticas, que tem papel pra limpar até o tubo dos escusões políticos, e tem madeira até para caso o degelo se torne dilúvio e Noé construa uma arca para comportar, em classe premium, luxo ou presidencial, todos os humanos — e deixar os casais de espécies na floresta. Tudo isso é inegável, inescuso, deu na TV.

Que o Brasil é incompetente para gerir o que é "dele", também sempre dá na TV. Então que diferença faz Amazônia minha, dele ou nossa? Se o fim é o mesmo, se apenas ganho um nacionalismo tosco, e se quem ganha algo de bom já mexeu suas madeirinhas, digo, seus pauzinhos para garantir a safra de amanhã, e se mesmo se "não ganha mas deve pensar no mundo", tudo é utopia perante o papão da ganância?

Há como impedir tal economia? Vale a pena cordas vocais por isso?

Quem ama, zonia.
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Garrafas vazias.

A peça de roupa, feita sob medida daquele que vive para vestir peças sob medida — e ser fotografado nelas — não necessariamente cabe em mim.

Não necessariamente e provavelmente nem. Mas ainda assim os padrõezinhos dizem pra mim que meu ar, quando vestido, vai parecer o ar sentido na página do anúncio de calça jeans.

O magror é o sarcasmo que as grifes publicam contra o estilo de vida que não necessariamente tende a nos esbeltar. Progresso amigo, tu és cômodo, és delicioso, mas feio...¹. Mais feio ainda sou eu, é o que me diz esta modelo em ar de gozo.

Sarcasm. The way you'd like to.

Oliviero Toscani é apedrejado pelos publicitários por fazer não-publicidade. Fã de seu trabalho, aprecio sua crítica ao cadáver morto com que nos sorriem as modas². A mais recente das polêmicas do fotógrafo gira em torno da anorexia: utilizou uma modelo de 31 Kg para sua campanha.

"Toda a publicidade de moda e as revistas e os jornais de moda se afastaram dela [a condição humana], se tornaram abstratas, esvaziaram o ser humano. A gente olha essas campanhas e vemos o vazio, e dizemos a nos mesmo: essas pessoas são como garrafas vazias", diz Toscani.

Não vejo humanos em poses pseudo-sexys. São corpos cujas roupas representadas não nos caberiam. O que nos força a diminuir medidas até (a)parecer saudável. E, por serem corpos sem a vida, corpos sem vida, são estes tais cadáveres. Espelhamo-nos em manequins sem pupila.

"Todos cagam. Uns mais rosas."

O consumo desumano consome o que há de humano, longe da perfeição.
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¹ Conto Os faroleiros, Urupês, Monteiro lobato.
² A publicidade é um cadáver que nos sorri: ISBN: 8500931957

sábado, 22 de setembro de 2007

Mais fuligem - Dia Sem Carro

Dessa vez foi mais simples. Mas posso dizer que já aderi ao movimento neste ano =D

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

3 bandas legais

Recentemente investi parte de meus bytes em downloads de músicas, e descobri algumas que tanto me agradaram que não pude egoistar. Dos vários álbuns que achei no blog de Neoprogressivo e no ranking do Progarquives, três merecem destaque.

Premiata Forneria Marconi, com o álbum Stati di Immaginazione. Instrumental. No trânsito é uma delícia.

Harmonium, com Si On Avait Besoin D'Une Cinquième Saison. Banda italiana. Letras aqui, porque eu não entendo, mas aos ouvidos parece muito boa, hehe.

Phideaux, em Doomsday Afternoon. Este é dos que me fazem pirar: temático e retoma versos e ritmos das canções anteriores na derradeira faixa. É o "fechamento redondo" de uma história bem contada. Eu ouço e penso em mega produções para musicais. O tema? Destruição do planeta (bem atual, digamos). Tem mistura desde "folk" até clássico. É do caralho. Dizem que é o álbum mais maduro desse cara aí, Phideaux Xavier (que nome bizarro).

Longe de mim ser crítico musical — só faltava essa. Mas deixo-os aos ventos do interesse desinteressado.

Os links acima dão numa página onde você pode clicar na música e ouvir por streaming; procure as áreas cinzas ao final de cada página. Ficou fácil.

Curtam.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Cidade limpa

Alexandre Orion, que segundo meu amigo Alê é um puta desenhista e dá até aulas de desenho em uma agência, apareceu num dos túneis de nossa cidade para fazer seu "protesto". Começou a esculpir-desenhar um ossário na fuligem que forma crosta nas laterais do túnel.

Talvez uma das melhores sinergias entre a arte, seu material e seu meio. A morte que respiramos em doses homeopáticas graças à aceleração de nossa vida na avenida...

O vídeo também mostra a abordagem da polícia. Está pixando? Mas, como? Com um paninho? Depois, a prefeitura mandou um de mangueira, pela CET, limpar a sujeira feita.

Cidade Limpa.

Mas o resto do túnel permanece intacto: acumula-se a fuligem da mesma forma que a poeira forma os sedimentos que enterraram nossos antepassados. (Os deles eram mais limpinhos.)

Na cena final, a água varre a fuligem e escorre (se arrasta) pelo ralo. É o Rio Tietê em miniatura, viscoso e negro. Do pó saímos e ao pó voltaremos; o mesmo com o petróleo. E respiramos essa água todos os dias...
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domingo, 26 de agosto de 2007

Cotas em universidades públicas

Dizem: igualdade entre raças!
Fazem: cotas!

Ubaldos, Freires e Holandas se cansariam de explicar as raízes do brasileiro branco-rico-nego-pobre que somos hoje. Só não explicaram o porquê do atual tupiniquim reagir, com diferenciação, à própria diferenciação, que nos desafia enquanto políticos.

Na África do Sul também fizeram isso. Nos transportes públicos separaram uma cota de bancos destinados aos negros. Lá se chamava apartheid. Na bondosa língua portuguesa-brasileira, é solidariedade.

Sem investimento indesviado em educação e infra-estrutura, não há (in)diferença social que se amenize na história. Ou, então, assumamos de vez que nosso curso é uma luta de raças.

Separei alguns parágrafos de um artigo do Luis Bistulfi que li a respeito no Duplipensar. Comentei entre chaves. Vale a pena lê-lo todo.

Entre os principais pontos do Estatuto da Igualdade Racial estão: a obrigação do cidadão em declarar sua raça [considerando a nossa miscigenação, é quase um insulto]. em todos os documentos oficiais, reserva de cotas raciais que vão desde o serviço público até programas de TV e uso do dinheiro público para criação de uma programação de interesse do público afro-descendente. Esses pontos são especialmente danosos à sociedade. Eles promovem uma divisão da população em raças, ferindo o princípio da igualdade, estabelece privilégios a um determinado grupo racial, sem contar que não é possível definir com exatidão o que vem a ser de interesse do público negro. No fim, alguém acabará tomando uma decisão arbitrária sobre o que interessa ao público afro-descendente. Segundo o geógrafo Demétrio Magnoli, "A nação, como um contrato entre cidadãos iguais em direitos, será substituída por uma confederação de 'raças'. Evidentemente estão sendo plantadas as sementes dos conflitos étnicos no futuro".

Fica clara aqui a intenção de colocar nas mãos do Estado o dever de impor aos cidadãos valores considerados como virtuosos e a capacidade de moldar a sociedade através de políticas específicas. Não bastasse isso, a lei propõe que os cidadãos deixem de ser tratados individualmente coletivizando-os a força de modo a serem tratados de acordo com o grupo racial a que pertencem. Estipulou-se até mesmo uma diferenciação entre discriminação negativa e positiva. A primeira refere-se ao tratamento de um grupo de maneira diferenciada com o objetivo de menosprezá-lo. A segunda se refere a ações que visam equiparar pessoas ou grupos que são discriminados negativamente. A diferenciação é artificial [a diferença é que num ele sorri, no outro xinga. No fim é hipocrisia do mesmo saco]. Cada cidadão deve ser tratado singularmente e de maneira igual aos demais independente de credo, cor, sexualidade, etc. O que esse projeto de lei propõe é a pura e simples institucionalização do racismo, algo jamais visto no Brasil no período pós-abolição.

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terça-feira, 21 de agosto de 2007

Artigo 'Renan e os negócios obscuros da Abril'

Eu, hein?

Depois de ficar sabendo das histórias entre concessões e coronelismo de ACM & Sarney com a Globo, agora vem mais essa pra mim. O grupo Abril, segundo artigo de Altamiro Borges, estaria envolvido:
  • nas obscuras transações ente Telefonica e TVA;
  • a grupos mediáticos racistas do apartheid da África do Sul;
  • a interesses editoriais de corporações dos EUA;
  • aos mesmos personagens que tentaram desbancar não-democraticamente o governo Chávez;
  • e, como já está na cara, ao PSDB, incluindo aí as manobras de Marcos Valério.

Os cães da liberdade de imprensa não são os mais bem intencionados.

Dá uma lidinha, dá?
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Vaticano e CIA apagando a memória.

A Internet é livre porém vigiada. E dessa vez estou enaltecendo a vigia.

Felizmente tem gente que consegue ver as manobras obscuras até daqueles cuja verba lhes permite bancar a manta da webinvisibilidade. A Wikipédia, a tal enciclopédia livre, hoje destino de muitos colegiais e universitários em busca de trabalhos rapidamente criados, como muitos sabem, é um local onde você pode colocar informações sobre algum assunto que você conhece bem. Se eu entendo da biografia de Ghandi e quero compartilhar esse conhecimento, vou lá no Wiki, abro um campo "Ghandi" e escrevo a minha versão de sua biografia. É um site em eterna construção, onde muita gente de alma boa entra na filosofia do projeto; mas promove a ilegitimidade dos fatos, pois não há um deus que diga o que é certo e errado, e quem pode "denunciar" erros são os próprios usuários. Ou seja, se eu dissesse que o líder indiano era homofóbico nas horas de lazer, a informação estaria lá até que alguém corrigisse ou denunciasse o erro.

Dizem que se é de todos, também é de ninguém.

Wikipédia é como se fosse uma simulação da escrita da História. Vamos brincar de versões?

E aconteceu o que era de se esperar. A partir do momento em que havia informações até mesmo jornalísticas — referentes, no caso, ao projeto de presidência do mandatário iraniano, e também sobre o envolvimento de um padre católico em certo assassinato —, os "interessados" deram um jeito de apagar a informação de acordo com sua política de transparência. Segundo um programa que "pega" fraudadores de páginas do Wikipédia, a CIA editou o que se refere ao Irã, e o Vaticano (sim, eles mesmos, os santinhos) apagou os links da página que levavam às matérias de jornal sobre o assassinato de colarinho.

Atenção, Dan Brown, que isso deve dar uma boa história.

Apagar uma documentação é procedimento típico de manipulação informação, gesto que já foi bem escrito por George Orwell em 1984 e Revolução dos Bichos. São manobras para esconder aquilo que, se levado a público, pode abalar as estruturas de poder estabelecidas ao longo da História.

Seria exagero dar tanto destaque a tal manipulação, num site cuja própria filosofia se permite ser editado sem veracidade dos fatos? Se elevarmos isso a acontecimentos onde não havia a tal liberdade de Internet, não.

A bíblia ficou quantos, mesmo? — uns três séculos? — sob "Tutela" da Igreja Católica. Somente alguns indivíduos de altos cargos (empresa mesmo) tinham acesso ao documento. Quem domina a comunicação domina o povo, e eu, em meu ceticismo, acredito que, sim, aquele partido deve ter manipulado o documento oficial do catolicismo conforme lhe convia.

Aliás, se tal pensamento não estivesse presente no ser humano em geral, Dan Brown não seria best-seller.

A própria versão que lemos na escola da História do mundo não é senão a versão de quem escreveu, de quem não morreu em batalha e, principalmente, de quem dominou os povos. Nunca tive acesso à versão africana, indígena e asiática da exploração. Os próprios demônios ditatoriais podem ser mais uma farsa maniqueísta para condicionar o pensamento da civilização.

E quanto à CIA... Bem, ninguém aqui é trouxa de acreditar nos cães de guarda do Bush, certo?

Religião, política, comunicação... Gostaria de tê-los separados para poder escrever sem freios, e também sem referência a gostos ou preferências. Infelizmente estão mais ligadas, tão indissociáveis, e com sujeiras tão difíceis de provar (nem o Lula, o Democrático, permite acesso aos documentos da ditadura...), que nos forçam a pensar apenas no campo das idéias, das possibilidades.

E os maiores comunicadores de não-informação já estão moldados à característica e tendência da nossa era: acomodarmos à tecnologia. Ela vem para deixar a vida prática, limpa e confortável. Mas vira dependência, objetivo de vida e, a partir disso, passamos a viver para poder viver conforme diz o anúncio. Nessa pressa por conseguir tudo que a loja e a novela nos oferece, nos permitimos a comodidade da informação no colo: a Internet que diz a verdade. Se é de todos, não é de ninguém. Caímos na ignorância parcial — que pode ser pior que a ignorância total.

Ainda bem que, mesmo livre, há quem vigie. Porque a liberdade dada nas mãos do poderio leva à não-informação, vide Globo, Abril e demais máfias que nos oferecem a comodidade da webgratuidade em troca do nosso raciocínio superficial. Discutir tudo isso trata-se de escolher entre a pílula azul ou a vermelha. Uma delas nos seda.

Mas eis o dilema: se você não tiver meios, a outra opção nada mais é que placebo. Voltamos à Estátua da Liberdade, enterrada na areia da praia. Descemos do cavalo, nos ajoelhamos perante o monumento e perguntamos: O que fizeram com a gente?!
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sexta-feira, 10 de agosto de 2007

A arte crítica no xadrez.

Vejam só, que bela liberdade de expressão, que belo país democrático. O artista gráfico Carlos Latuff desenhou imagens do lado B do PAN para expressar seu ponto de vista sobre o evento. Um dos desenhos mostrava um policial recolhendo um menor de rua. Outro, Cauê empunhando um fuzil.

E então o espírito da censura baixou. O que aconteceu? Teve um pedido de prisão por uma delegada pra lá de democrática.

"Deus fez o homem perfeito: um ouvido para vaias, outro para elogios."

Belas metáforas, belos discursos. Isso sim é arte.

E afasta de mim este cálice...


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quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Vaia merda.

Vaiar presidente é uma coisa. Vaiar atleta enquanto este se concentra, é outra.

Mas temo que seja do mesmo saco.

Burro, burro, burro. Um nacionalismo burro. Um nacionalismo que direciona a festa somente aos brasileiros — em vez do esporte em si. Um nacionalismo que bem merece efte previdente.

Uma classe que, liderada por um cestinha ídolo (no meu caso, é ex-), vaia meninas de 13 anos só porque elas concorrem com as medalhas brasileiras, ou porque simplesmente são dos EUA. "Isso, vai, Brasil, vamos favorecer nossa equipe. Vai, Brasil, façamos barulho e atrapalhemos nossas adversárias. Vaia, Brasil, zil, zil.

Uma vaia bem gorda para nós, sujos e desonestos. E palmas à hipocrisia de quem anda em passeata contra corrupção, mas vaia atleta. E mais palmas ainda a um espetáculo brasileiro, televisionado com deturpação jornalística (do contrário, a gente veria medalhista norte-americano e cubano).

Leiam os trechos abaixo do artigo A brava gente brasileira, de Larissa Grau.

O Brasil do Jornal Nacional é um misto de três correntes de interpretações sobre nosso país. É uma mistura dos pensamentos sociais de um Estado demiurgo da sociedade, do patriarcalismo e de uma sociedade realizada por meio da representação de alguns tipos ideais.

No primeiro caso, temos um Estado que é desconectado da sociedade e que dela independe. Esta parece um subproduto mal acabado daquele e que, ingênua, desorganizada e débil, fica à mercê de atitudes autoritárias. No segundo caso, é uma nação regida por interesses oriundos de laços de parentescos, apadrinhamentos e interesses pessoais. Uma interpretação que não esquece, também, a informalidade inocente de um povo multiétnico.

Essas duas primeiras teses complementam-se e servem-se reciprocamente, como afirmaria o sociólogo Otávio Ianni. Se o povo é inocente, então necessita de um Estado que o tutele e oriente e é aí que se justifica a representação de um Estado onisciente, ubíquo e oligárquico e que não precisa atender aos anseios de sua sociedade civil, a qual, por sua vez, se guia por sentimentos passionais e subjetivos.

[...]

A torcida alegre e vibrante do Jornal Nacional – e que foi "um espetáculo à parte" – é a mesma que vaiou os atletas estrangeiros e torceu para que falhassem em suas performances. Um de nossos maiores ídolos do esporte, de quase 50 anos de idade e contratado pela emissora em questão, foi aquele que gritou em um estádio para que garotinhas de 13, 14 anos caíssem de seus aparelhos de ginástica olímpica. Para a locução global e emocionada, tal vibração foi um exemplo de amor à pátria. Esse Brasil, só a Globo não revelou. Como não tem revelado que nossos dirigentes somos nós e, quem sabe, não seríamos corruptos se estivéssemos "lá".

Se alguns de nós conquistamos o pão de cada dia com o fruto de nosso suor, somos também uma nação de "espertos", dentro da representação dos tipos ideais. Apesar de sermos um espetáculo à parte, continuamos a corromper o guarda de trânsito que nos multa e a querer prisões melhores, ou mesmo o perdão, para os nossos filhos que fazem faculdade, mesmo que eles tenham espancado uma doméstica na rua. Arrastamos nossas crianças até a morte pelas ruas e tampouco nos incomodamos com a morte delas nos morros das cidades. Jogamos lixo nas ruas pela janela de nossos bons carros e o público, desconectado de nós por se originar do Estado, pode ser depredado. Se o Estado rouba, por que não eu? E somos também aqueles que acham bacana sonegar o Imposto de Renda, justificando que o Estado não nos dá nada em troca.

Enquanto acreditarmos que esse Brasil é dividido em dois, que os atos de nossas autoridades não contêm o nosso DNA, muito pouco poderemos efetivamente realizar. Nessa retro-alimentação de um estado de ignorância, o Jornal Nacional nos representa, quando lhe convém o fervor ufanista, como uma única e sólida entidade estereotipada.

Dessa forma, não são reduzidas somente as nossas múltiplas e fragmentadas representações, mas, junto com elas, as nossas possibilidades de uma ação cidadã que se realizam somente por meio de nosso Estado.

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Perfil de ACM

Um perfil interessante sobre o coronel do acarajé, falecido. Aqui.
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Jornalista derrapa e se choca em depósito ético

Na TV, noticiários que tinham como foco a exploração da dor alheia. Câmeras nas lágrimas, câmeras nas bocas! Na carnificina! Açougue diretamente na sua casa, aproveite!

Um corpo carbonizado! Vamos entrevistá-lo!


— Senhor pai que perdeu o filho, qual o sentimento que se tem quando se perde um filho?
— ...
— Vocês, que estão nos acompanhando na cobertura da maior tragédia da aviação brasileira, podem perceber a comoção dos familiares que perderam pessoas nesse acidente. Por favor, senhora, o que você tem a dizer para os responsávei desse... pode mostrar o rosto, sim?
— ...
— Os telespectadores podem notar a tristeza de um ente que acaba de perder outro ente. Até quando teremos que suportar isso? Bonner.

Democracia da informação. Liberdade de imprensa.

E a comunicação social é um céu de urubus.
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Pobres e nojentas

De caras e bocas eu já estava coroa de saber. Se isto é gente, vivo na subrrealidade. Flash, flash! Captou-se a próxima fatura pela íris pelicular.

Quem?

Feliz fico em saber que há minúsculos veículos sérios, sem o sarcasmo do paparazismo ocupando a pauta de quem não cuida de si mesmo.

"A revista Pobres & Nojentas pretende — com ironia, mas também com seriedade — se contrapor à superficialidade do chamado “jornalismo de gente”, um tipo de publicação que investe na divulgação de informações sobre a vida dos ricos e famosos. Na Pobres & Nojentas o foco está no povo que trabalha, luta e constrói mundos.

"No meio capitalista e até mesmo no socialista, a democratização da comunicação dificilmente acontece, pois a imprensa atual só abre espaço para mercantilização da notícia ao abordar assuntos que em sua grande maioria são superficiais e chamativos." (daqui)

Ah, ah ironia! O chocolate amargo dos que negam a face escarnívora mediática. Mas, ainda que liliputianas, ainda há iniciativas contra a superficialidade retroalimentadora do jornalismo de coluna social. Coluna social de um ser humano molusco.
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Caça à RCTV

Gato e rato.

Chávez está logo atrás dela, onde ela, a RCTV, estiver. Agora que a emissora é paga — ou seja, mais elitista do que já era —, o comandante quer obrigar os canais de TV por assinatura a transmitirem as mensagens ufanistas e, quem sabe, deturpadas, que o governo produz acerca de suas façanhas.

Será medo? Por acaso no andar de cima a elite venezuelana é mais ativa do que nossos cansados?
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quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Papa-tudo


Saiu na revista italiana L'Espresso nº 30 uma reportagem sobre uma das mais importantes funções (e se for a mais eu não estranho) de um papa ao cristianismo: levantar os fundos da igreja.

Afinal, mais importante que a propagação da palavra, é a propaganda (cujo significado começou na própria religião) e o
Retorno Sobre Investimento que se obtém com em publicidade, show-cultos, papa-móvel... E o investimento é contabilizado na moeda Bondade dos Fiéi$.

A Conta Sagrada

A Fallon, agência internacional, tem na carteira um santinho. Ou melhor, a conta da igreja católica em países como os EUA e Reino Unido. A campanha é cativante. Mas para mim soa no mínimo estranho que religião seja anunciada como serviço e, o nome de Jesus, usado "em vão". Veja um, dois anúncios clicando. Vendem a igreja como algo legal, e Jesus como um revolucionário. É como dizia Dona Neves: che, che, che, che!

Para ver o site da organização que promove todo ano uma campanha para arrecadar, digo, chamar mais fiéis, clique aqui.

Sobre os números do Papa-tudo, aqui.

Sobre o site dos caras que são contra todo esse marketing religioso, aqui.

B-Ocombustível

Uma nota sobre o combustível.

De um lado temos o lobby, grupo de defesa tanto dos interessados (UE, EUA, AUÊ) quanto dos políticos/empresários brasileiros — e não saberemos se realmente acreditam ou se é tudo jogo para tentar vender o produto. Eles defendem que o álcool trará benefícios ao mundo a médio e longo prazo.

Do outro, a turma do contra diz que para produzirmos o álcool verde ou os grãos destinados ao combustível, muitas terras hoje utilizadas para cultivo de alimentos-para-alimentação teriam que ser deserdadas.
  • as condições de trabalho nos canaviais não são lá muito humanas; deveríamos dizer que a escravidão voltaria com apoio dos governantes;
  • os nordestinos sabem muito bem no que as terras canavieiras se transformaram;
  • elevariam os preços dos alimentos, pois a oferta diminui e a demanda continua a mesma; com isso, a fome cresceria no mundo.
Mas o lobby diz que não.
  • que teremos fiscalização;
  • que teremos competência;
  • que o subproduto da produção serve de alimento aos animais, ou seja, o processo final se compensa e o preço permanece o mesmo; quanto à fome, a geração de emprego seria a fonte de renda responsável pelo combate.
Acho que podemos confiar, certo?

Colonialismo ressurgido versus massas abafadas. A voz do povo contra a voz dos deuses. Uma manobra que cheira queimada, assalto, crime democrático, um B-O para o biocombustível. Quem realmente ganha nesse investimento? Quem ganha essa disputa entre o Rolex e a fome? Quem será...



a próxima vítima.
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terça-feira, 31 de julho de 2007

Brasil: crer, dor.

“Em determinados cargos, a gente não diz aquilo que pensa nunca, a gente faz quando pode e, se não pode, a gente deixa como está para ver como é que fica. [...] Eu pego a minha experiência de 20 anos no movimento sindical e fico olhando a quantidade de coisas que falei porque era moda falar, mas que não tinha substância quando você pega no concreto.” (Lula)

“Esqueçam tudo o que eu disse.” (FHC)
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— Mãe, o Papai Noel fala mais bonitinho...


E agora, Luís?
A festa acabou,
o ar apagou,
o povo caiu,
o vôo não freou,
e agora, Luís?
e agora, nós?
você que é só nome,
zombava dos outros,
fazia seus gestos,
discursos, protestos?
e agora, Luís?

Está sem colher,
está sem discurso,
campanha carinha,
já não posso escolher,
já não posso voar,
despir já não pode,
a noite esquentou,
o deputado não veio,
o juiz não veio,
o gozo não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, Luís?

E agora, Luís?
Sua dofe palavra,
seu instante de febre,
sua gula e banquete,
sua biblioteca,
seu banco de couro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
fecharam;
quer morrer no mar,
de dinheiro;
quer ir para minas,
Abre um bordel.
Luís, e agora?

Se gritasse,
se gemesse,
se tocasse
a gente não assistisse!
Mas deita,
mas dorme,
Se pelo menos se morresse...
Mas a gente não morre,
você é mole, Luís!

Sozinhos no escuro
qual bicho-do-mato,
com demagogia,
tal democracia
para nos encostar.
De carro preto
que fuja de golpe,
você nos guia, Luís!
Luís, para onde?
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Disputas, dez putas, déspotas.

— Seu delegado, denúncia de puta.
— De puta?
— De puta.
— Puta é quem?
— Denúncia de jornalista. Sobre puta.
— Homem ou mulher?
— Mulher.
— Que puta!
— De puta a puta.
— Prenda.
— O cafetão?
— Não. A puta.
— A puta?!
— A puta da jornalista.
— Por que a jornalista?
— Porque não pode.
— Puta?
— Dedar putaria.
— Puta...
— Pode ser bandido. Puta, não!
— Por quê?
— Puta não apita em puta.
— E quem apita?
— O juiz.
— Que é filho dela?
— Não. O juiz, que come a puta.
— Da jornalista?
— A puta-puta!
— Ela fica puta.
— E aí me imputa.
— E disputa.
— E não se vende por um puto!
— Manda à puta que pariu?
— Não, que ela denuncia.
— Então, longe de puta?
— É. E limpa a denúncia.
— Dela?
— Da gente.
— Não era da puta?
— Sim, mas também me desimputa!
— Entendi.
— Nunca vi puta. Nunca vi puta.
— Amanhã tu é home desimputado.
— Faz direito, que tu vira deputado.
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História baseada aqui.
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segunda-feira, 30 de julho de 2007

Cristocracia 1, Demo 0.

Senhor, perdoai-vos, pois não sabem o que fazem.

Já com certa defasagem, porque brasileiro tem memória curta, vou mexer na merda pra ver se fede.

Aquela eleição das novas sete maravilhas feitas pelo homem não poderia ser mais fajuta. Primeiro, por serem as obras eleitas por qualquer um que tenha internet ou telefone. Se não tiver, problema do seu candidato.

Segundo, porque o voto é validado por IP (endereço de conexão de internet), não CPF. Ou seja, você pode votar dez vezes, desde que tenha sido de dez locais diferentes.

O Camboja, terra dos templos de Angkor, não teve entrada na cabine de votação. São pouquíssimos os cambojanos ligados ou conectados. E mesmo que toda a população tivesse acesso a tais tecnologias, não teria sido suficiente (fonte 1 na Folha e 2 no Observatório da Imprensa).

Terceiro, porque desde quando um nacionalista sabe votar? — ainda mais quando só há propaganda de um candidato. O candidato do país. No Brasil, até o Lula falou para que os brasileiros exercecem sua cidadania e votassem no Vevus de Navaré do Rio de Vaneiro.

Qualquer um que diga que Cristo Redentor, uma estátua colocada estrategicamente num ponto de observação, tem mais valor humano que as três pirâmides do Egito, construídas sob uma acurada geometria e astronomia, ou de uma Acrópole grega, toda erguida segundo a lei áurea, deveria ser internado num hospício sob fachada de democracia. Do contrário, assumamos que aqui se elege no grito, e façamos uma Gaviões da Fiel de Cristo Redentor: o maior time do mundo, porque tem a maior torcida!

A-hã.

Foram campanhas ufanistas, bairristas, e, sim, quase de torcida de futebol. São farsas como essa que me fazem creditar cada vez menos a democracia.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura não legitima essa eleição, segundo a nota no site deles. Mas quem diabos é Unesco, não é mesmo?
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quarta-feira, 18 de julho de 2007

Acidente aéreo e o caso passageiro.

Descaso com a situação aérea. O assunto, como diz o trocadilho, está no ar. Em menos de um ano, os dois piores acidentes da aviação brasileira. Uma TAM que, em resposta aos familiares, responde que não sabia quem estava no vôo. Um governo que envia a polícia militar. À empresa? Não. Foi para conter os ânimos dos familiares ignorados. No Brasil, a PM protege os criminosos dos civis. E o presidente mete o dedo no assunto, mas infelizmente é o dedo cuja competência lhe falta.

Gostaria de ter os nervos mais explosivos para indignar-me com a situação, mas infelizmente a história me parece mais uma Sexta-Feira 13, cujo enredo todo mundo sabe: pânico, ilusão de fim... e um recomeço pior ainda.
E resta a mim o lamento. Até o dia que aconteça com alguém que eu me importo.

Por isso, deixo aqui as palavras de meu amigo Gregor.


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Claucio *, escreve no seu blog como os fdp agora, diante da "maior tragedia aérea brasileira da história" ainda conseguem ter o descaramento e a total e completa ausência de hombriedade de virem com aquela porra de discursinho de merda de que "qualquer acusação agora seria precipitada, qualquer hipótese seria de uma tamanha irresponsabilidade, que nada poderá ser dito antes que as 'investigações sérias' procedam, sejam concluídas, que os técnicos, especialistas da aeronáutica, consultores de merda validem toda a


perícia e análise do que realmente aconteceu. Antes disse, é tudo especulação, fraude, boicote, difamação, o caralho a quatro".

Sério, puta que o pariu, é evidência atrás de evidência e aquele puto continua na presidência do Senado porque "está sendo investigado, SERIAMENTE, e todo mundo é inocente até que se prove o contrário e, quando se prova, então me prove a validade da sua prova. Prova! Aliás, quem é essa prostituta de luxo aspirante a jornalista que insinuou a possibilidade de pousar nua para revista masculina, chantagista, pistoleira e vigarista para acusar alguém de algo? Prostituta não é ser humano, é justificativa inquestionável para espancamento público em via pública, segundo a própria autoridade no assunto da jovem classe média alta carioca.

Enquanto isso, pelos quase que mesmos motivos que são injustamente acusados os nossos políticos (calúnia!), os seus colegas chineses, por sua vez, são executados, e os japas, ainda mais loucos, eles mesmos que se matem. Harakiri!

É claro que todo mundo já fez essa analogia da política nacional com a oriental, mas agora morrem 200 e poucos negos e vem neguinho em rede nacional me dizer que não dá p/ acusar ninguém nem porra nenhuma antes do caralho de investigação de merda?? Que ninguém pode abrir o bico até que TODOS os fatos sejam analisados seriamente, aprofundados, detalhados, destrinchados, ados, ados e ados? E a outra bosta de acidente da Gol – agora apenas o 2º. Lugar dos piores acidentes aéreos da história do Brasil – ocorrido já há 10 meses. Cadê a família das vítimas indenizadas? Fica nesse empurra-empurra de controladores, de dupla dinâmica dos pilotos estrangeiros, do caralho do transponder (foda-se o transponder) e ninguém resolve porra nenhuma.

Meio-dia depois da tragédia (e percebam como esta palavra já não tem quase peso algum), de uma leve coceira no cérebro e de uma praticamente imperceptível comichão na alma, estamos todos de volta à rotina alienante do trabalho, a 23 em breve estará com ambas as vias liberadas e o grande showrnalismo (a notícia como espetáculo) tão logo voltará a focar suas manchetes no vietnã neo-pós-moderno e no eterno conflito dos putos judeus com os eu-sou-vítima, os palestinos.

E no sempre urgente, sucessivamente superando o não-dá-tempo importante, assim vamos levando, mais uma vez anestesiados e conformados que a trivial e banal impunidade tem o mesmo imenso valor e trás tamanho significado tanto quanto a tão difundida desigualdade, palavras que ouvimos desde a longínqua infância e que tão logo aprendemos a incorporar na naturalidade de todos os nosso dias. Tão iguais, tão iguais. Cadê o piloto automático do avião da Tam? Arremeta!

Enquanto isso, dirigidos por um torneiro mecânico, tão incompetente que, se perdera um dedo com um cargo de ínfima responsabilidade, agora perde a cabeça nos levando junto rumo ao inferno, mascarado pela suposta prosperidade econômica.

Puta que o pariu!

Pronto. Desabafei. (Ui!). Que absurdo de minha parte tomar tantos preciosos minutos do meio da manhã do meu super-corrido expediente para articular de maneira chula palavras tão imprestáveis e de um lugar-comum tamanho que afetará tanto a realidade quanto as profecias reveladas no best-seller "O Segredo".

Agora preciso responder alguns e-mails para ontem, retornar ligações para anteontem, retornar o relatório de prospecção para semana passada e fazer aquele uma milhão de coisas absolutamente urgentes. Aliás, penso que não vai dar para almoçar hoje. Aliás, vou cancelar aquela consulta ao dentista de novo. Aliás, não vai dar tempo de ligar para aquela pessoa importante mais uma vez. Tudo super-corrido. Fui!!

Atenciosamente, Cordialmente, Best Regards,
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Dicionário moderno da comunicação social.

Jornalismo: comércio.
Tiragem: produção.
Relações públicas: advocacia, publicidade.
Notícia: babado.
Polêmica: briga em geral.
Imprensa: fábrica.
Capa: embalagem.
Banca: menor unidade de varejo possível.
Leitor: consumidor.
Liberdade: criatividade.

Apuração: repressão, ditadura.
Responsabilidade: checar no Google.
Escândalo: lançamento da estação.
A morte: promoção de vendas.

Empresário de luta é assim. "Quando surge um garoto promissor, eles o agarram, e o expremem, expremem, expremem até não poder mais. Aí eles largam e pegam outro garoto, e depois outro, e depois outro!..." (Ramón Valdez, em "A relação entre a exploração colonial e a desportiva", 1972)

Jornalismo é parecido. "Quando surge um escândalo, um casal global, uma tragédia, um acidente aéreo, um tiro, uma briga, um megaevento, uma eleição, eles os expremem, expremem, expremem até não poder mais gerar renda para a metrópole. Vêm as lágrimas, o inconformismo, que depois perde seu prefixo diluído no tempo das não-provas. Aí largam os restos, ficam em busca de outra mina para renovar o ciclo, porque apurar informação não vende ingresso." (Autor desconhecido, em "O escândalo colonizado", 2006)

Nas seções de indicação e crítica, matérias pagas. As denúncias, somente se interessar aos objetivos do editor. Celebridade vira papa no assunto. Mais Paris hilton, menos Paris-Texas. Não tardará para que tenhamos ficção forjada em nome de uma democracia exemplo RCTV anti-chavista. Mas não tem perigo, porque o previdenpe já sugeriu calar alguns críticos.

O povo? A novela de cada dia, nos enviai hoje. Assim caminha efta colônia. De galho em galho.

O Planeta dos Macacos, o original, principalmente o final, é uma das maiores metáforas já produzidas. E, para o Brasil, nada melhor que um presidente Macunaíma que, ao sinal de trabalho, diz: "Ai, que preguiça!"
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terça-feira, 17 de julho de 2007

Fábricas de diploma

Se estamos na era da Informação, pode-se dizer que atingimos a Revolução Industrial. Porque o que temos produzido em série, em T-fordismo, são os diplomados.

Temos fábricas de currículos surgindo em todos os bairros, e a promessa é óbvia: uma chance de concluir os estudos e ter um futuro brilhante. Tal promessa surge hoje, mas se espelha em argumentos antigos: de quando faculdade concluída era sinônimo de emprego.

E nivela-se por baixo. Muita gente com o mesmo rótulo. O mercado tem a mão invisível, e na tentativa desta mão separar as pepitas do cascalho, exigem, já para cargos baixos, o domínio de duas línguas, pós-graduação, MBA e mais a caralhada de títulos que temos no varejo da informação.

É a política do Wal-Mart na seleção de futuros: levar mais por menos — e com um smile ilustrativo.

Com tanta prensa de currículo, caímos no espiral da oferta-demanda: não basta o diploma, tem que ter extensão logo que se sai do superior; e experiência de cinco anos na área para a vaga de assistente.

O resultado: alta procura por pós-graduação antes dos 25 anos. Uma alucinação vítima das exigências superficiais.

Nessa corrida pelo carimbo no papel timbrado, e, do outro lado, na busca da sala de aula cheia, o comprometimento com o ensino e aprendizado escorre pelo tubo:
  • enche-se a grade horária, que é linguiça, para criar percepção de mais conhecimento aprendido;
  • professores despreparados para fazer o "consumidor" entender sua matéria (temos menos alunos e mais consumidores);
  • listas de presença, porque a prova escrita vale assim como o carimbo em detrimento da ética;
  • faculdades-clube, faculdades-conceito, etc.
Mas há esperança. Pelos resultados da 3ª edição do Enade, que é o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes para 48 carreiras avaliadas, percebe-se que existe insatisfação dos alunos em relação à faculdade prestada. E uma delas é a sensação de que a instituição poderia ter exigido mais.

E não estamos falando de mensalidade.

Em tempo: um amigo acredita que, com o descaso do governo à Educação, é capaz aconteça o mesmo que se deu com as escolas particulares em São Paulo. Há meio século atrás, eram sinônimo de baixa qualidade de ensino, e destinadas a quem não entrava nas escolas públicas, que, também opostas à situação de hoje, eram bem conceituadas. Num futuro bem próximo vai compensar pagar a faculdade, pois ela será comprovadamente mais enriquecedora que a universidade pública. A julgar pela importância dada ao tema, nós de vinte e poucos anos, deveríamos pensar na meia para o estudo dos filhos de daqui outros vinte e poucos anos. E como o pagamento traz desigualdade, carros blindados serão uma boa para nos sentirmos mais protetores, nesse descaso que perdura.

domingo, 15 de julho de 2007

Grande Irmão com faixa verde-amarela

Mais uma vez, a história de Winston do Grande Irmão de 1984 se repete. Temos a reescrita da história, para que os pequenos aprendam desde cedo a nova verdade.

Porque, vocês sabem, a "verdade" é aquela que existe na memória do povo. E a do brasileiro é curta ai-que-preguiça!osa.

Abaixo, um artigo de onde pude conhecer a barbárie. Conferi os links, e é verdade.


Site da Presidência da República distorce história do Brasil

De uma seção didática, voltada para o público infantil, no site de uma instituição como a Presidência da República, deve-se esperar, no mínimo, duas coisas: primeiro, que ela seja educativa e, segundo, republicana. Não é o que acontece no site da Presidência da República Federativa do Brasil.

Em artigo publicado em "O Estado de S.Paulo", o historiador Marco Antonio Villa fez uma breve relação dos erros e distorções ideológicas que compõem a "Versão para Crianças" do site da chefia de Estado e de Governo. No âmbito educacional, trata-se de um problema grave. Em vez de propiciar uma formação para a cidadania, o site tem um caráter desinformativo.

É melhor começar comentando os erros, pois eles são tão crassos que não há como discuti-los. O site diz que a primeira Constituição do Brasil data de 1822, o ano da Independência. Na verdade, ela foi outorgada por dom Pedro 1º à nação dois anos depois, em 1824.

Do mesmo modo, afirma-se que o Duque de Caxias participou do afastamento de dom Pedro 2º. Quando a República foi proclamada, em 1889, Caxias já estava morto havia oito anos.

Os erros não se restringem à história. A julgar pelo que ali se vê, os responsáveis pelo site também sabem pouco a respeito do funcionamento da vida política brasileira, tal qual ela está consignada nas leis em vigor.

No que se refere aos outros dois poderes, por exemplo, segundo ensina a "Versão para Crianças" da Presidência da República, os mandatos dos representantes do povo variam de quatro a seis anos. Ora, os senadores são eleitos por um período de oito anos.

Distorções ideológicas
Ao chegar à história recente do país, os erros fatuais abrem caminho para a eclosão das distorções ideológicas, que não são poucas. Por exemplo, afirma-se que "em maio de 1978, ocorreu a primeira greve de operários metalúrgicos desde 1964". As greves dos trabalhadores de Osasco e Contagem, dez anos antes, parecem não vir ao caso.

Aliás, nada parece vir ao caso nos últimos 30 anos, se não se relacionar com Lula. Como bem notou Villa, o site transforma o atual presidente num "personagem onipresente na história do Brasil", nessas últimas três décadas. Tanto que Luiz Inácio da Silva é proclamado o líder "da mobilização nacional contra a corrupção que acabou no impeachment do presidente Fernando Collor".

Trata-se de um exagero. Lula contribuiu, sim, para o afastamento de Collor, que hoje faz parte da base do presidente. No entanto, a liderança do movimento incluía muitos políticos de outros partidos e instituições da sociedade civil, como a OAB - Ordem dos Advogados do Brasil.

Não bastassem omissões e exageros no trato da história, o site também peca na extensão da biografia de Lula, que é maior que a de todos os outros presidentes da República, como ainda inclui uma biografia de dona Marisa - a única primeira-dama brasileira que tem a vida relatada aos jovens internautas.

O nome que se dá a isso há algum tempo é o de "culto à personalidade" e a pedagogia que dela deriva pode produzir efeitos desastrosos. E aí é que se chega ao X do problema: transformar o site da instituição Presidência da República em peça de propaganda político-pessoal é misturar a coisa privada, particular, partidária, com a coisa pública. Em poucas palavras, é ser anti-republicano.

Vale encerrar lembrando que a idéia de República, nos tempos modernos, sempre caminhou ao lado do conceito de uma educação sem doutrinação, em especial nas repúblicas verdadeiramente democráticas.

*Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação.
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sexta-feira, 13 de julho de 2007

Os Ossos do Barão

Dia 21 de julho, próximo sábado, apresentaremos a montagem da turma Mirian Muniz, que encerra o primeiro de três anos de processo de profissionalização de atores. :)

A peça é uma comédia e se chama Os Ossos do Barão. Conta as tramas de Egisto Ghirotto, um ex-colono italiano que planeja casar o seu filho, Martino, com Izabel, filha da família descendente dos barões - em cujas terras Egisto conseguiu ajuntar sua fortuna.

Será lá naquele mesmo teatro onde apresentei o Experimento Yerma. Teatro do Ator, na rua Franklin Roosevel (da praça Roosevelt), nº 172.

A entrada é quase gratuita: o ingresso custa apenas 1 Kg de alimento não perecível, que será para alimentação desses atores pobretões. (Mentira, é para doação.)

A peça começa à tarde, às 17h. Ou seja, se você tinha planos pra sábado à noite, não interfere em nada.

Terei o maior prazer e apresentar sabendo que meus amigos estarão lá vendo. Mas chegue cedo. Só tem esse dia de apresentação e estou chamando toda a italianada da família, hehe.

Até lá!
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quinta-feira, 12 de julho de 2007

Cristo somente para raros

"Vaticano define Igreja Católica como única religião de Cristo."

É exatamente por posturas como essas que se é "perdoável" que enfiem um avião bem no rabo desses cânones. Eles é que têm a palavra. E quem disse isso? Eles.

Como aqueles fanáticos do Teatro Mágico, que dizem que eles é que são poéticos, eles é que são raros. Guardando as devidas proporções, tudo é uma questão de fanatismo, de pretensão, de soberba disfarçada de poesia ou de missa.

Onde houver espaço para que a fé no improvável permita poderes, mais maliciosos serão os discursos dos escolhidos. Porque deus agora escolhe oficiais caducos para proferir a guerra santa.

Gilberto Dimenstein escreveu bem sobre o tema, e reproduzo aqui o belo texto, mas não garanto que os "raros" (leia "fanáticos de qualquer índole") vão entender.

Esquecendo Deus

Juro que, depois dessa coluna, deixo o tema religião de lado por uns tempos. O problema é que, quanto mais tento explicar meu raciocínio, menos compreendido sou, a julgar pelo crescente número de e-mails que recebo.

Retomemos a questão desde os seus prolegômenos. Não sou contra a religião assim como não sou contra a literatura, o sexo e as drogas. Todos eles podem ser fonte legítima de prazer para quem os usa. E não dá para negar que muita gente encontra conforto junto à religião. Alguns experimentam até mesmo o êxtase. Há ainda quem dela se valha para formar e cimentar um círculo de relacionamentos sociais, mais ou menos como um clube. Para nenhuma dessas funções, entretanto, é necessário que ela seja verdadeira. Aliás, afirmar que determinada religião é falsa é uma asserção com a qual a esmagadora maioria da humanidade tende a concordar, desde que o juízo não se refira a seu próprio credo.

Para que a prática religiosa se mantenha legítima, isto é, mais benigna do que maligna, é necessário antes de mais nada que ela não sirva de pretexto para imposições e violência. Se alguém, mesmo contra todas as evidências, quer acreditar que vinho se converte em sangue, e a hóstia, em carne, tem o direito de fazê-lo. O que não dá para aceitar é que, em nome dessa e de outras idéias às vezes exóticas, derive um código moral e busque empurrá-lo goela abaixo de toda a sociedade, incluindo os que não partilham das mesmas crenças, as quais, vale insistir, têm uma base empírica extremamente frágil, para dizer o mínimo.

E, infelizmente, a história está repleta de guerras e massacres cometidos em nome da religião. Mesmo hoje, em pleno século 21, muitas vezes é a fé que define aqueles a quem podemos matar. Terroristas jihadistas têm o "dever" de matar infiéis. Sunitas e xiitas no Iraque estão, em nome da verdadeira sucessão do profeta, autorizados a dizimar-se uns aos outros. Nós, no Ocidente, lançamo-nos na missão sagrada de semear a democracia no mundo islâmico. Fazemo-lo, é claro, atirando bombas. Aos que inadvertidamente morrem no processo chamamos eufemisticamente de "danos colaterais". Em geral, são muçulmanos árabes, africanos ou asiáticos.

Não estou, evidentemente, atribuindo à religião toda a violência de que o homem é capaz. Ao contrário, estou convicto de que, não fosse a fé, encontraríamos outros pretextos para nos massacrar, como a coloração da pele, o idioma de origem ou alguma outra bobagem do tipo a mão que usa para escrever. É inegável, entretanto, que a religião serviu e está servindo de motor à barbárie. Nesse contexto, e dada a virtual impossibilidade de simplesmente acabarmos com os credos, a medida óbvia que se impõe é conter o fervor religioso das pessoas. Se todos forem um pouco mais relapsos na implementação de mandamentos que cobram a destruição dos infiéis, teremos um mundo mais pacífico.

Também não nego que a religião esteja na origem de coisas, senão boas, pelo menos interessantes, na música, na arquitetura, na pintura e, acrescento por minha conta e risco, na sutil arte metafísica. Só que vale aqui o mesmo argumento da violência. Não é porque essas realizações se deram sob o signo da religião que não teriam ocorrido sem ela, que, de resto, esteve com o homem desde que ele desceu das árvores. Daí não decorre que ela seja a responsável direta por todas as obras humanas, sejam elas boas ou más.

Isso nos leva a uma pergunta interessante. Por que diabos a religião existe? A resposta é mais ou menos óbvia para o crente: para honrar a Deus e pedir-Lhe que interceda por nós. Curiosamente, é entre agnósticos, ateus e outros que buscam uma abordagem científica do fenômeno religioso que a questão se torna controversa. "Grosso modo", há os que lhe reconhecem algum valor, como o de reforçar os laços sociais entre as pessoas numa comunidade, e os que a consideram um mero efeito colateral --e adverso-- da circuitaria cerebral humana. O biólogo Richard Dawkins, por exemplo, aposta que o pendor humano pelo sobrenatural é o resultado inopinado do módulo cerebral que nos torna crianças obedientes, acreditando, sem nenhum espírito crítico, nas histórias que nossos pais nos contam. Especialmente no passado darwiniano, obedecer cegamente aos mais experientes ajudava a manter-nos longe de perigos. Outros autores, como o filósofo Daniel Dennett, elaboram um pouco mais a questão, sugerindo a concorrência de outros módulos neuronais, como a tendência a ver agentes onde só existem sombras (o seguro morreu de velho) e a inventar explicações, ainda que infundadas, para tudo --característica que, embora nos faça pagar alguns micos, pode contribuir para a sobrevivência do grupo.

Sei que nós, seres imperfeitos, não devemos questionar as decisões do Altíssimo, mas convenhamos que não faz muito sentido para um Deus onipotente e benevolente revelar-se na forma de colecionador de prepúcios para os judeus e, para os maias, como um espectador ávido por sacrifícios humanos. A hipótese de que deuses são criações humanas explica muito melhor a universalidade do fenômeno religioso do que a teoria das "sementes de verdade" propugnada pelo catolicismo.

Alguns de meus interlocutores partiram dessa universalidade da religião para concluir que ela é necessária e benéfica. Até admito que, no passado, ela possa ter ajudado. Já não é o caso. A religião acabou tomando rumos que a tornaram uma força mais maligna do que benigna, atuando muito mais para separar as pessoas --e de forma violenta-- do que para uni-las. Um dos responsáveis por essa transformação foi o advento do monoteísmo, tão celebrado por judeus, cristãos e muçulmanos.

É claro que os povos já guerreavam muito antes de Abrão deixar a cidade de Ur, na Caldéia. Só que os combates não costumavam vestir as roupagens da religião. Aliás, nem havia necessidade. Uma das vantagens do politeísmo é que ele favorece o livre intercâmbio de deuses. Um babilônio e um grego tinham inúmeras diferenças, mas, se havia algo que podia uni-los, era justamente identificar as semelhanças entre Ishtar e Afrodite, que se tornavam apenas diferentes nomes da mesma deusa. Com o monoteísmo, veio o exclusivismo. Deus não apenas pedia para ser louvado como passou a exigir a destruição de seus, digamos, concorrentes. Estava aberta a avenida para a intolerância religiosa, que até hoje segue contabilizando vítimas. Nesta semana mesmo, o Vaticano soltou um novo documento que volta a proclamar sua superioridade sobre as igrejas ortodoxas e as "seitas" protestantes. "Quod erat demonstrandum".

A forma como encaramos Deus é, felizmente, mutável. Ishtar, Afrodite, Mitra, Wotan e vários outros panteões foram esquecidos. O próprio Iahweh do Antigo Testamento se tornou, de algum modo, menos raivoso: a grande maioria dos judeus e dos cristãos já não apedrejam aqueles que levam Seu santo nome em vão. É um progresso. E, já que todos os sinais são de que a religião não desaparecerá tão cedo, resta esperar que ela continue se modificando para assumir formas menos destrutivas. Não creio que isso ocorrerá no horizonte de nossas vidas, mas quem sabe no dos netos dos netos de nossos netos.


Amém.
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O produto que fabrico, funciona porque eu fabrico

Se o produto é aplicado na pele, funciona porque entra diretamente em contato, e a massagem estimula a circulação, e...

Se o produto é ingerido, funciona porque vem de dentro pra fora, ou seja, não é só superficial, portanto dura mais tempo, e é mais consistente, e...

Com tais premissas é possível vender um catálogo inteiro de cosméticos, vitamínicos, contra-issos etc.

As provas dos benefícios dos milhares de cosméticos, aplicados ou "engulíveis", são baseadas em dois pilares:

a) é milagroso porque se baseia só na crença (por parte de quem consome) de que ninguém brincaria com uma coisa séria dessas — imagine!, dizer que faz bem só pra vender mais?

b) e se é "concreto", há pesquisas que comprovam a eficácia — pesquisas estas realizadas por encomenda de quem fabrica.

Não nos resta dúvidas de que o cosmético funciona. Inclusive, o lançamento funciona ainda mais que o outro, porque...

(escolha entre a ou b).

Curiosamente, a notícia desses recém-lançados-no-mercado cosméticos orais, que excedem em benefícios e carecem de pesquisas, saiu na seção "Equilíbrio" da Folha, e muitos de nós sabemos que essa obsessão pelo consumo de beleza fast-food é a mais alta prova de desequilíbrio da sociedade cosmopolita do tudo-ao-mesmo-tempo-agora.

É a propaganda e a indústria, incentivando o espelhamento em vidas impossíveis, que fomenta a busca pela felicidade paga, que gera dependência, que gera meta, que gera correria, que gera frustração, que gera estresse, que gera busca fácil de felicidade, e a roda gigante permanece viva.
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Pan e circo

Respeitável público,

no ano passado, vivíamos um escândalo político, até que veio a Copa, que, mesmo trazendo derrota, faz sua função, também política: a de apagar a memória.


Se brasileiro tem memória curta, eu não me lembro bem...

...mas já recebi um e-mail com a quantidade de processos, CPI's, escândalos etc. que aconteceram desde que o país virou democrático; poucos naquela lista quilométrica deram um final feliz — no sentido realmente democrático, ou seja, inexistente, utópico desta colônia disfarçada de barbudinhos fofos.

(Se eu não recebo por e-mail, nem tem como lembrar. É o fowardismo.)

Sentido também utópico, visto que a mídia e o jornalismo têm mais a função comercial do que informativa. É o que chamam de "denúncia por tiragem", porque o que vale mais é ter o que gritar, sem compromisso de apurar.

Neste ano de 2007, depois daquele mensalão, temos pontes do nada ao lugar nenhum, processos que não vêm a calhar, presidentes dizendo que os corruptos são de boa índole etc. Cuidado, que já tá tem povo reclamando. Porque falta educação, comida, emprego.

Reclamando? Saindo uma de muzzarela com ovo! Neste ano tem Pan, o que vai fazer com que as pessoas se esqueçam de novo.


Na foto, trocadilho máximo.


É a política de Pan e Circo, onde o palhaço na verdade é o eleitor.

No ano que vem, Olimpíadas. E em 2010, uma Copa "social", como pressinto que irão nomear. A primeira Copa no continente negro. Com Bono dando o pontapé inicial e Angelina Jolie como cheerleader. Aí o mundo vira bom, [suspiro]...

O esporte e a mídia combinada têm a incrível capacidade de abafar as revoltas e apagar as insurgências e os desafetos dos mais pobres, que continuam achando que o Lula os representa mais que deus. Eu já nem ligo mais. Fui eu que deixei acontecer. Sou eu que acompanho as manchetes pela internet. Sou eu que, na dúvida entre fazer greve e não pagar a parcela do carro, opto por chegar cedo em casa.

No Brasil, a política é de quem quer se aproveitar. Alguém duvida? É carreira. Posso ser empresário e pagar mal funcionários, ou posso ser político e aproveitar do imposto de 40% dos salários pagos. E eu também pago, pelos juros da comodidade parcelada.

É o tipo de espetáculo que põe o espectador no palco. O escárnio dos produtores, o sarcasmo do palhaço, a maquiagem que nos é pintura, o malabarismo do morto cidadão, o circo de cada dia nos dai hoje, mas livrai-nos do mal-estar, "amem".

Eu pago o que eu comprei.

Eu
que
me
fo
d
a
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